Da Associação Pouco mais de um mês depois da transferência à força, sem aviso prévio e nem autorização dos familiares, os pacientes do Hospital José Alberto Maia, continuam sem o apoio de equipes médicas e responsáveis, em tempo integral, para cuidar e manter os doentes.
De acordo com Epitácio José da Silva, presidente da Associação de Família e Amigos do Doente Mental de Pernambuco, os doentes não estão com a assistência devida e os familiares estão insatisfeitos. “É distante para visitar, falta estrutura para e ir e vir e tem muita lama e barro.
O acesso é muito difícil.
Além disso, as famílias não estão sendo ouvidas.
Não temos transportes e a Prefeitura de Camaragibe hoje, apenas disponibiliza um transporte para familiares e funcionários com horário e local previamente combinados, com saída da praça do km zero até o local.
São mais seis quilômetros mata adentro, com uma estrada cheia de buracos e insegura, pois é cercada de mato por todos os lados.
A gravidade é tão grande, que houve um caso em que a família de um paciente o levou para um abrigo particular, porque não tinha como acompanhá-lo nesta distância e estava sendo pressionada para levá-lo para casa”, confidencia.
LEIA TAMBÉM: » A realidade dos deficientes físicos em Pernambuco E as denúncias não param por aí.
Segundo o representante da Associação, estão deslocando os pacientes para outros locais, cometendo a mesma grave infração que fizeram antes quando os tiraram do Alberto Maia. “Não avisam que os doentes estão sendo removidos.
Isso é sério.
Se for uma saída irregular, tem que ter a assinatura e a autorização da família.
Se não for assim, é preciso avisar ao Ministério Público”.
Outra preocupação ainda assola quem tem parentes internados: o acompanhamento médico. “Os pacientes estão sendo acompanhados por dois médicos (uma médica clínica e um psiquiatra).
E se houver necessidade de uma emergência o atendimento é feito no CEMEC (Centro Médico de Camaragibe), no bairro mais próximo, em Vera Cruz”, explica Epitácio.
O presidente da Associação ainda destaca que há um número razoável de funcionários, principalmente enfermeiros.
Quanto a médicos, psicólogos e funcionários gerais, há pouca movimentação.
E a insegurança dos familiares continua em relação ao local para onde os doentes serão transferidos após os oito meses de contrato de aluguel do Maré Mansa acabarem.
As perguntas são: Para onde eles irão?
Quem fará a transferência?. “Fala-se que em residências terapêuticas nos municípios de origem do paciente, de que pode ser em outro hospital, ou que poderão voltar para suas casas.
Mas ninguém dá certeza de nada.
O parecer dos pacientes continua sendo num nível muito alto de insatisfação com o que esta sendo feito com eles e suas famílias.
Eles sofriam quando estavam no Alberto Maia e continuam sofrendo neste lugar onde estão.
E que não se tem uma esperança de dias melhores.
São só incertezas”, finaliza Epitácio.
ESVAZIAMENTO DO ALBERTO MAIA - Segundo o médico psiquiatra Feliciano Abdon, presidente do departamento de psiquiatria do Sindicato dos Hospitais de Pernambuco – Sindhospe, a ideia da criação desse estabelecimento era acelerar a redução dos leitos do hospital, que precisam ser esvaziados para que o imóvel seja vendido para sanar dívidas como o pagamento de salário dos funcionários. “É necessária a retirada urgente dos doentes para a venda do local.
A prefeitura (de Camaragibe) deveria ter retirado os mais de 200 pacientes ainda restantes em setembro e até agora nada.
E não há um único pronunciamento sobre o assunto”, enfatiza.
Abdon ainda ressalva que os doentes não foram retirados como manda a norma. “A lei é clara.
Como diz o Artigo 5º, ‘o paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário’”, esclarece.
Outro fato vem deixando o médico bastante preocupado.
São os cuidados que não estão sendo dados aos pacientes. “Quem está dando assistência aos doentes?
Onde eles estão?
A alta não foi planejada, foi contra a vontade família e deles.
Além disso, não está sendo feita a psico-reabilitação e não há supervisão da instância”, destaca Abdon.
Os Artigos 2º e 3º da Lei 10.216 são bastante diretos quanto a esse ponto, pois afirmam que “O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros. § 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art.2º”.
A terapeuta ocupacional Kátia Guerra, uma das responsáveis pela transferência de pacientes dentro da lei para o Instituto de Psiquiatria do Recife - IPR, afirma que o acompanhamento psicológico do paciente e da família é importante para que não gere distúrbios nos doentes mentais. “Para mudanças, é preciso uma preparação.
Os pacientes que as tiveram, não causaram problema algum.
Já os do Alberto Maia, que foram levados à força e sem a presença dos familiares, ficaram bastante agitados e até agressivos”, comenta.
NOVO LOCAL - O Acampamento Maré Mansa, localizado no Km 14 de Aldeia, atual moradia de 130 pacientes, é um espaço aberto, amplo, sem muros e sem restrições de liberdades.
E isso gera problemas, entre eles a fuga dos doentes que ficam à mercê da insegurança e da falta de cuidados.
Aparentemente é um paraíso, porém sem a estrutura necessária que deve ser embasada na Legislação em Saúde Mental com a portaria 251 e na Lei 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.