Boa noite, sou estudante de direito da UFPE e venho até vocês com o intuito de tornar pública a vergonhosa situação pela qual eu e minha família passamos neste domingo de eleição.

Espero que a relevância deste problema funcione como denúncia contra o descaso de nossos governantes, uma vez que é certo que muitos passam por situações como esta todos os dias, por todo o país.

Meu pai é deficiente físico e neste domingo, tal como vem acontecendo há várias eleições, precisou enfrentar diversos obstáculos a fim de chegar e sair de sua cabine de votação.

Seu local de votação é a Escola Estadual Pintor Manoel Bandeira, localizada na Rua Ambrosio B.

Leite, s/n, em Bairro Novo, Olinda, e, logo na porta de entrada nos deparamos com o primeiro obstáculo.

Há dois enormes batentes logo na porta que dá acesso ao interior do prédio (fotos 5, 6 e 7).

Com cerca de 25 cm de altura cada e absolutamente inapropriado para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção (que certamente votam naquela escola), precisamos da ajuda de um eleitor para que conseguíssemos, com bastante esforço, suspender a cadeira a fim de ultrapassar os degraus.

Uma vez dentro do prédio, nos dirigimos até a sessão dele.

Chegando lá, novamente, outro problema: mais um degrau, desta vez na porta da sala de votação.

Com altura de cerca de dez centímetros, poucos imaginam o quanto sofre alguém em uma cadeira de rodas ao tentar passar por um degrau desses.

Precisamos, novamente, suspender a cadeira para adentrar na sala, ao passo que nos esforçávamos para passá-la pelo portal, que dificilmente media 60 cm de largura, tamanho totalmente inapropriado para a passagem de cadeira de rodas (fotos 8 e 9).

Uma vez feita a votação, hora de sair da sala, sendo necessário apoiar a cadeira nas rodas traseiras a fim de novamente passar pelo degrau.

Na saída do prédio, novo constrangimento, uma vez que era preciso que duas pessoas suspendessem a cadeira a fim de descer os degraus (fotos 10, 11 e 12), e fazer o percurso até o carro, já que a escola está em obras , cujo prazo inclusive já expirou, e encontra-se cheia de restos de obras (fotos 18 a 23).

Enquanto deixávamos o prédio encontramos uma moça que também passava pela mesma situação.

Necessitando da cadeira de rodas para se locomover, não tinha como passar pelos degraus sem fazer um grande esforço para se por de pé, e precariamente, descer apoiando-se na cadeira com a ajuda de sua acompanhante (fotos 13 a 17).

Pois é.

No ano em que os brasileiros elegem a primeira mulher presidente do país e dá um salto singular em sua democracia, é esse o respeito que recebem eleitores como meu pai.

Ainda precisando enfrentar obstáculos tão primitivos como estes, a ponto de constranger alguém a exercer o direito democrático, tais situações nos fazem questionar se a ferramenta do voto serve realmente como alavanca de evolução, ou apenas como mercadoria valiosa para aqueles que almejam o poder.

Afinal, se mesmo durante o momento em que nos dispomos a sair de casa a fim de eleger um governante somos tratados dessa forma, na hora em que mais pode valer nosso poder de escolha, o que podemos esperar daí por diante?

Marília Dantas