Confirmando os prognósticos dos institutos de pesquisa, o Brasil amanhece com a vitória da primeira mulher a ocupar a cadeira de presidente da República.
Mineira de nascimento e gaúcha de criação, Dilma Rousseff venceu as eleições no segundo turno com ampla margem sobre José Serra.
Ainda que não tenha alcançado a votação do seu antecessor nas últimas duas disputas, Dilma chega ao Planalto credenciada pela vontade da maioria dos brasileiros, naquela que foi a mais acirrada campanha desde 1989, quando Lula disputou pela primeira vez, perdendo então para Fernando Collor.
Ungida por Lula e abraçada pelo Partido dos Trabalhadores como a representante da continuidade do projeto de poder partidário – refletido, segundo os petistas, em um projeto nacional de desenvolvimento aprovado pela população – a ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil chega ao posto máximo da nação em sua primeira disputa.
Trata-se de um grande feito, ainda que se leve em conta o papel decisivo do presidente Lula, que comandou a própria sucessão participando ativamente de todos os lances da campanha.
E embora tenha afirmado, ainda antes de conhecer o veredicto das urnas, que “nada nem ninguém” conseguiria separá-la politicamente de Lula, o fato é que, a partir de janeiro, é ela quem irá traçar os rumos das políticas públicas, escolher os integrantes do ministério e interferir no destino de quase 200 milhões de pessoas.
A responsabilidade é imensa, sobretudo em relação aos nordestinos.
Na nossa região, Dilma obteve expressiva vantagem.
Aqui, com a ajuda da estratosférica aprovação do presidente e de seu governo, além do apoio de aliados igualmente bem sucedidos em popularidade, como o governador Eduardo Campos, Dilma celebrou inédita conquista.
Tal desempenho deve muito aos números da economia regional, renascida na última década ao experimentar os efeitos de sustentado ciclo de crescimento, iniciado graças a investimentos de porte e possibilitado pela estabilidade da economia nacional diante de propícios ventos globais.
A vitória de Dilma no Nordeste espelha a esperança de que esse ciclo não cesse, e ganhe impulso ainda maior, uma vez que nossas deficiências estão longe de ser debeladas.
Neste aspecto, a sensibilidade feminina da presidente eleita será cobrada pelo menos em um ponto fundamental: a priorização imediata e maciça na educação.
Como ela mesma fez questão de declarar durante os debates, é somente a partir da educação de qualidade que é capaz de florescer a plenitude do potencial humano.
Sem educação de qualidade, pelo contrário, qualquer esforço de correção de rota é prejudicado, e as políticas compensatórias correm sério risco de ser aplicadas em vão.
O desafio que se coloca à gestão que se inicia em 2011 – a Era Dilma – passa pelo enfrentamento de questões graves como a persistência do baixo nível educacional brasileiro – e neste cenário, o nível pior ainda da formação da criança e do jovem nordestino.
Esfriados os ânimos de uma campanha dura, a presidente Dilma terá também a árdua tarefa de construir em torno de si um círculo de governabilidade sem a aura de um mito no poder.
A saída de Lula, neste sentido, é benéfica para o País, ao possibilitar a recondução do jogo político para condições de equilíbrio entre os interlocutores da oposição e do governo.
Além disso, espera-se de uma mulher na Presidência a conduta firme das contas públicas, reduzindo gastos mal feitos, sem concessões no campo da ética.
Em seu pronunciamento como vencedora, ontem, Dilma reiterou as bases democráticas do desenvolvimento nacional.
Parabenizamos a nova presidente eleita, ao tempo em que reafirmamos, como não poderia deixar de ser em um ambiente democrático, onde viceja a imprensa livre, a vigilância devida diante do cumprimento das promessas, especialmente as que dizem respeito aos rumos de nossa região.
Expressamos a confiança em que a nova presidente do Brasil irá perseguir os compromissos assumidos, como o de erradicar a miséria, zelosa aos preceitos constitucionais e buscando honrar os votos de mais de 55 milhões de brasileiros.