Por Adriano Oliveira A eleição de Dilma representa mais uma ruptura com as estruturas que inibem o progresso socioeconômico do Brasil.
As ações de FHC, em particular as privatizações, enfraqueceram a prática patrimonialista no interior do estado brasileiro.
A vitória de Lula mostrou simbolicamente que a mobilidade social existe no Brasil e que os “de baixo” podem chegar ao poder numa sociedade hierárquica.
O sucesso eleitoral de Dilma contribui ainda mais para o enfraquecimento da hierarquia social.
Neste caso, a hierarquia de gênero.
Os determinantes clássicos que elucidam a escolha eleitoral, apesar dela ter vencido no segundo turno, explicam o sucesso da petista.
Dilma venceu em razão de ter Lula ao seu lado.
Lula é um governante aprovado pela população brasileira, proporcionou bem-estar econômico aos brasileiros, e é do PT, partido admirado por parte dos eleitores.
Mas Dilma, ao contrário dos que muitos achavam antes da campanha, não é incompetente.
E nem sofre de paralisia gerencial e intelectual.
Dilma foi vendida pelo marketing como gestora competente.
E o eleitor acreditou nesta promessa.
Cabe a ela tornar o estado eficiente.
O discurso de Dilma após eleita sugere que ela tem ideias próprias, algumas, inclusive, que contradizem com parte da “intelectualidade” do seu partido.
Dilma defendeu a liberdade de expressão, a gestão pública eficiente, o fortalecimento do mercado interno e a interação econômica com outros países.
Estes temas foram abordados de modo tímido pela candidata na campanha.
E a defesa intransigente da liberdade de expressão não estava no seu programa inicial de governo.
Ao abordar estes temas após eleita, Dilma mostra que não depende exclusivamente do PT e do presidente Lula para governar.
Dilma tem dois desafios.
O primeiro é saber lidar com os interesses patrimonialistas da sua ampla base partidária.
Dilma não pode lotear o estado desconsiderando a competência e a conduta do ator nomeado. É infantil acreditar que Dilma ou qualquer outro presidente tenha condições de governar sem construir o presidencialismo de coalizão.
Mas Dilma pode tentar fazer diferente.
Neste caso, reconhecer o estado como organização em que os interesses privados não podem contaminá-lo.
O presidente Lula poderá ser um problema para Dilma.
Lula sairá do governo nos braços do povo.
Lula a elegeu.
Diversos brasileiros atribuem as suas conquistas econômicas a ele.
Portanto, Dilma, sempre que for ao espelho refletir sobre a eficiência do seu governo, poderá ver a sombra de Lula.
Este, por sua vez, em razão de alguma insatisfação, poderá opinar sobre Dilma.
Com isto, sem intenção ou não, desgastar a imagem da sua criatura.
Dilma deve assumir o governo pensando em ser reeleita.
Com isto, ela descobrirá que precisa se distanciar politicamente do presidente Lula.
Ele pode ser seu amigo e até conselheiro.
Mas nunca um ator que atua em sua sombra.
Dilma precisa mostrar aos brasileiros que tem autonomia em relação a Lula e sabe lidar com o PT ou com qualquer outro partido.
Dilma, diante de uma forte oposição que sofrerá, precisará dialogar e respeitar as instituições.
Dilma deve enxergar o Brasil como uma nação integrada por um só povo independente da preferência partidária.