Do Jornal do Commercio BUENOS AIRES – Do lado de fora da Casa Rosada, a fila que se formou para prestar a última homenagem ao Ex-presidente Néstor Kirchner chegou a se estender por 15 quarteirões.

Dentro do palácio do governo, no Salão dos Patriotas, a figura da mulher enlutada Cristina Kirchner se sobrepôs à imagem altiva da presidente da Argentina.

Depois de 35 anos de história conjunta, Cristina, 57 anos, foi a protagonista do velório do marido e antecessor.

De óculos escuros, a presidente passou o dia inteiro ao lado do caixão, onde recebeu o apoio de gente comum, chefes de Estado e estrelas como Maradona.

O corpo do ex-presidente será levado hoje de manhã para a cidade de Río Gallegos, sua terra natal, no sul do país, onde será sepultado numa cerimônia restrita a familiares.

Kirchner morreu anteontem, aos 60 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória.

Sempre ao lado dos filhos, Máximo e Florencia, da mãe Ofélia e da cunhada, a ministra de Desenvolvimento Social, Alicia Kirchner, entre outros colaboradores do governo que integram o círculo íntimo da família, Cristina tentou se mostrar forte, mas em vários momentos não conseguiu conter a dor e a emoção.

Durante todo o dia, ela se esforçou para passar aos argentinos a imagem de uma presidente sob controle.

Aos amigos e companheiros políticos, insistia em dizer: “Continuarei lutando e trabalhando, mais do que nunca”.

Cada vez que uma pessoa se atrevia a gritar o nome de Kirchner ou a desejar-lhe força, Cristina sorria e agradecia.

Em muitos momentos, ela se rendeu ao sofrimento e seus lábios tremiam – deixando de lado o papel de líder do país para ser, somente, a mulher arrasada pela perda do marido que se tornou um dos homens mais influentes dos últimos anos na América do Sul.

O filho mais velho do casal, Máximo, atuou como uma espécie de segurança da presidente, filtrando os candidatos a uma conversa direta com Cristina.

Em respeito à viúva, e não à chefe de Estado, importantes adversários políticos de Kirchner optaram por não comparecer ao velório – entre eles o vice-presidente, Julio Cobos, e o ex-presidente Eduardo Duhalde.

Algumas versões extraoficiais afirmam que a Casa Rosada pediu a ambos que evitassem contato com Cristina.

Outros dirigentes, como o deputado do peronismo dissidente Francisco de Narváez, que derrotou Kirchner nas eleições legislativas de 2009 na província de Buenos Aires, compareceram, mas, pelo menos por um dia, abandonaram o discurso político de confrontação.

Líderes latinos como os presidentes Evo Morales (Bolívia), Hugo Chávez (Venezuela), José Mujica (Uruguai), Juan Manuel Santos (Colômbia), Sebastián Piñera (Chile), Rafael Correa (Equador) e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foram a Buenos Aires apoiar Cristina – Néstor era secretário-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). “Estamos todos um pouco órfãos”, resumiu Morales.

Também estiveram ao lado da presidente as Mães e Avós da Praça de Maio.

Todas muito emocionadas pela morte do primeiro líder que abriu as portas da Casa Rosada às organizações de defesa dos direitos humanos do país.