O debate entre os candidatos à presidência promovido pela Rede Record foi um dos mais fracos que se viu nestas eleições.

Não trouxe novidades nem lançou luzes sobre questões essenciais, além do que já se falou sobre temas importantes como saúde e educação nos guias da TV.

Antes, o encontro foi marcado por agressões verbais e o tema que dominou a maior parte do tempo foram as privatizações.

Neste sentido, bom para o PT, que levanta essa discussão atrasada e que só serve ao debate mais ideológico entre os partidos.

No final, a presidenciável Dilma chegou a pedir desculpas pelo nível do debate. É difícil acreditar que algum eleitor indeciso forme sua opinião pelo que se viu e ouviu na tela ainda há pouco.

Em mais de uma oportunidade, os dois contedores chamaram um ao outro de mentirosos.

Não deixa de ser verdade. É que os políticos são mestres em responder apenas ao que lhes interessa.

Eles adoram sofismar, ressaltando apenas a parte do fato que mais lhes interessa ou convém.

Que depois é freneticamente repetida na internet por aqueles militantes-robôs, dispensados de pensar (por conta própria).

No segundo bloco, Serra chegou a dizer que Dilma era uma profissional na arte da mentira, ao reclamar que o nome da Petrobras não chegou a ser mudado para Petrobrax, no governo FHC, para facilitar sua privatização. “Foi uma idéia tola de um diretor de marketing da Petrobras que nunca chegou a ser efetivada”, defendeu o tucano.

No mesmo tom belicoso, Dilma acusou Serra de deliberadamente fazer enrolações ao falar da exploração do pré-sal, no debate sobre as privatizações.

No governo Lula, a operadora obrigatória dos poços é a Petrobras, que, no entanto, pode ceder poços para empresas privadas também.

O clima de farpas teve início depois que o tucano reclamou que Dilma mente que ele queria privatizar a Petrobras e lembrou que a petista autorizou a venda de blocos de exploração para 108 empresas privadas, nacionais e internacionais. “Ela não é coerente com o que faz na prática no governo”, apontou a contradição. “Serra faz confusão e quer esconder deliberadamente a realidade.

Tivemos dois momentos, um antes e outro depois da descoberta do pré-sal”, rebateu. “Vocês foram contra o sistema de partilha e não tem coragem de assumir”, reclamou.

Na hora em que reclamou do aumento de terceirizados na estatal, Serra chegou a revelar que a BR Distribuidora, braço da estatal, está engregue a correligionários do ex-presidente Fernando Collor.

Dilma não rebateu.

Erenice e Paulo Preto O acirramento do debate começou já no primeiro bloco, quando o tucano José Serra fez uma pergunta sobre o programa federal de expansão da banda larga de internet.

Depois de apontar poucos avanços, Serra lembrou que o projeto era de responsabilidade da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, “que hoje (segunda-feira) prestou depoimento na Polícia Federal”.

Depois da primeira referência ao escândalo que derrubou a sucessora de Dilma na Casa Civil, suspeita de tráfico de influência e alvo de inquérito na PF, Dilma retrucou na hora, afirmando que, enquanto Erenice prestava depoimento à PF, ninguém investigava o ex-diretor da Dersa (estatal paulista do setor rodoviário) Paulo Vieira de Souza, ligado ao PSDB.

A candidata do PT voltou a apontar Souza, conhecido como Paulo Preto, como pivô de supostos desvios.

Segundo a revista IstoÉ, tucanos o acusaram de recolher recursos para a campanha de Serra e de não repassá-los para os cofres tucanos. “Quando ele ameaça, vocês recuam”, afirmou Dilma, em referência ao fato de Serra, em um primeiro momento, ter negado conhecer Paulo Preto, e a seguir sair em sua defesa.

Dilma insistiu que Serra deveria responder sobre Paulo Preto porque ele era o braço direito, o esquerdo e a cabeça também do tucano, por ter tocado obras como o Rodoanel, expansão da Marginal, em São Paulo, entre outras obras.

Serra disse que o assunto era fantasioso e reclamou que era vítima de injustiças, por não ter como ser atacado.

Citou que Dilma chegou a fazer a defesa de José Dirceu, apontado como um dos chefes da quadrilha do mensalão do PT no governo Federal.

No debate, o tucano reiterou que nunca conheceu o ex-diretor da Dersa pelo apelido de Paulo Preto, que qualificou como “preconceituoso e racista”.

Afirmou ainda que o desvio de recursos da campanha não existiu e, se tivesse ocorrido, seria vítima disso. “Vocês inventaram isso”, atacou.

MST No terceiro e último bloco, Serra partiu para o ataque com o objetivo de carimbar a petista como incentivadora do MST, que promove invasões de terras e depredações.

No ar, o tucano revelou que o governo Federal repassou R$ 165 milhões ao movimento e classíficou a entidade como elemento da luta política que usa a reforma agrária como pretexto.

No caso, acrescentou que só reduziu as invasões agora neste ano eleitoral para não atrapalhar Dilma eleitoralmente. “Eu não concordo com tudo o que o MST faz.

Eu sou contra invasão e depredação de patrimônio público”, esquivou-se Dilma, que mostrou irritação ao ser questionada pelo fato de ter usado boné do MST. “Dilma ora critica, ora veste o boné do MST”, criticou Serra, antes de ouvir a petista pedir mais humildade e elegância.

No contra-ataque, disse que Serra também quebrava propostas, como ter deixado a prefeitura de São Paulo para disputar o governo, mesmo tendo comprometido em cartório a cumprir o mandato.

Emprego O último tema debatido no encontro seria a política de empregos, mas, mais uma vez, os candidatos preferiram a esgrima eleitoral, no lugar da apresentação de propostas.

O tema chegou a ser proposta no segundo bloco, mas foi ignorado, em função da troca de supapos.

Dilma disse que o governo Lula, pouco citado até em todo o programa, teria criado 15 milhoes de empregos, três vezes mais do que o governo FHC.

Numa das réplicas, prometeu desonerar a folha de pessoal das empresas e investir mais em contrução civil.

O tucano José Serra não disperdiçou a oportunidade de criticar a elevada taxa de juros, uma das mais altas do mundo, bem como a reduzida taxa de investimentos. “Já na propaganda oficial, somos imbatíveis”, ironizou, antes de atribuir a ampliação do emprego a um fenômeno de formalização, gerado pela união da Receita Federal com o INSS, que leva ao aumento das carteiras assinadas como mais fiscalização.

Agenda do Nordeste O tema Nordeste passou de raspão pelo debate, citado em uma pergunta do candidato Serra sobre o que Dilma faria pela região.

Falou-se na continuidade de obras como a Ferrovia Transnordestina e a transposição das águas do Rio São Francisco.

Segundo Serra, essas ações seriam só propaganda do governo Lula mas não teriam saído do papel, e ele se comprometeu a realizá-las.

Tratamento semelhante foi dado à refinaria da Petrobras em Pernambuco.

Comparando a atual situação do Nordeste à vivida no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – aliado de Serra – Dilma garantiu que as obras estão em andamento e prometeu dar continuidade.

No desfecho, Dilma ainda disse que hoje o Nordeste cresce a taxas chinesas de crescimento e a região não será tratada como de segunda categoria.

Ainda quando falou da região, Dilma acusou Serra de não conhecer a região e ter dezprezo por ela, por estar cobrando que uma refinaria saia do papel antes de sete anos.

Serra não deixou barato e lembrou que desdém ela mostrou ao não comparecer no debate sobre a região (promovido pelo SBT Nordeste, na TV Jornal).

As obras do PCA na região, aliás, proporcionaram o primeiro arranca-rabo entre os dois debatedores.

Dilma abriu o programa perguntando o que ele faria com as obras do PAC no Nordeste.

Serra disse que o programa era uma lista de obras incompleta e detonou na retórica. “O PAC é mais saliva do que realização”.

Dilma não gostou. “Lista de obras é o Avança Brasil (de FHC).

Acho que você está enrolando”.

Nesta hora, Serra disse que a refinaria de Pernambuco não havia saído do chão ainda e as três outras refinarias eram apenas promessas.

Segurança pública O tema da segurança e a agenda verde, por exemplo, foram outros dois temas que foram relegados a um segundo plano, com respostas evasivas e pouco elaboradas.

Serra disse que a segurança piorou em 16 estados e Dilma defendeu que iria colocar a polícia pacificadora em mais locais.

O tucano também votou a defender mais rigor nas fronteiras.

Agenda verde A disputa pelos votos de Marina também esteve presente no debate, mas não durou muito tempo, tão entretidos que os candidatos estavam em apontar contradições nos discursos dos outros.

Dilma chegou a dizer que gostaria de reduzir em 80% o desmatamento da Amazônia.

Serra prometeu zerar, repetindo proposta apresentada pela senadora do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente.

Saúde e Educação Os dois temas chegaram a ser propostos logo no primeiro bloco, mas nada se discutiu sobre eles, enquanto sobravam citações sobre Erenice e Paulo Preto.

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