AFINAL, A VANTAGEM É DE 10 OU DE 12 PONTOS?

Por Maurício Costa Romão Manchete de primeira página da Folha de S.Paulo da sexta-feira, 22/10/2010: “Vantagem de Dilma sobre Serra sobe a 12 pontos”.

Segue-se uma ilustração com dois gráficos paralelos: no primeiro, diz-se que em total de votos Dilma tem 50% e Serra 40%; no segundo, que em votos válidos Dilma tem 56% e Serra 44%. À parte da peremptória manchete, muitos leitores devem ter-se perguntado: “afinal de contas, a vantagem é de 10 ou de 12 pontos?”.

Tais leitores devem ter raciocinado: a quantidade de intenção de votos atribuída na pesquisa a cada um dos candidatos é um dado número, digamos, 50 milhões para Dilma e 40 milhões para Serra, uma diferença de 10 milhões.

Ora, se a pesquisa é a mesma, como é que essa diferença muda se os entrevistados que declararam voto a Dilma e Serra são os mesmos 50 e 40 milhões de eleitores?

A resposta é que a diferença de 10 milhões não se altera e as quantidades de intenção de votos dos candidatos continuam sendo 50 e 40 milhões, respectivamente, porém tais quantidades são confrontadas com diferentes conceitos e, portanto, mudam seus valores relativos (as percentagens de intenção de votos), mas os valores absolutos permanecem os mesmos (as quantidades de intenção de votos) Por exemplo, admita-se que as intenções de votos brancos, nulos e indecisos sejam 10 milhões que, somados às supostas intenções de voto de Dilma e de Serra, dão um total de 100 milhões.

Em valores absolutos tem-se, então: 50 milhões + 40 milhões + 10 milhões = 100 milhões Em valores relativos: 50% + 40% + 10% = 100% Assim, nesse conceito de intenção de votos totais, Dilma tem 50%, Serra 40% e os brancos, nulos e indecisos somam 10%.

A diferença de intenção de votos pró Dilma é de 10 pontos de percentagem, no conceito de votos totais.

Veja-se agora outro conceito, o de votos válidos.

Os votos válidos, com os quais trabalha o TSE, são, por definição, os votos totais menos os votos brancos e nulos.

Assim, para que as intenções de voto possam ser comparadas com os resultados das urnas, as pesquisas têm que se adaptar ao conceito do TSE, mostrando seus números também em votos válidos.

Nas pesquisas, contudo, além dos votos brancos e nulos, existe ainda a categoria de “indecisos”, que não faz parte das opções com que se defronta o eleitor no dia da votação.

Então, nas pesquisas, para passar de intenções de voto totais para intenção de votos válidos, subtraem-se as quantidades de intenção de votos brancos, nulos e, também, a de indecisos (dá no mesmo supor que estes últimos, ao invés de subtraídos, tenham sido distribuídos proporcionalmente entre os candidatos).

Logo, dos 100 milhões de intenção de votos totais tem-se que subtrair 10 milhões, correspondentes aos votos brancos, nulos e indecisos.

Agora, em valores absolutos, obtêm-se as seguintes intenções de votos válidos: 50 milhões + 40 milhões = 90 milhões Em valores relativos: 55,55% + 44,44% = 99,99% Arredondando: 56% + 44% = 100% Dessa forma, no conceito de intenção de votos válidos, Dilma tem 56%, Serra 44%, uma diferença de 12 pontos, conforme estampa a manchete da Folha de S.Paulo.

Veja-se que agora os valores relativos são outros (as percentagens de intenção de votos): Dilma passou de 50% em votos totais para 56% em votos válidos e Serra, de 40% para 44%.

Há que se notar, contudo, que as quantidades originais de declaração de intenções de voto não mudaram: Dilma permanece com 50 milhões e Serra com 40 milhões.

Pode-se dizer, em conclusão, que a resposta à indagação “afinal de contas, a vantagem é de 10 ou de 12 pontos?” é: se a eleição fosse realizada no dia da pesquisa, a vantagem seria de 10 pontos no conceito de intenção de votos totais e 12 no de votos válidos, mas os eleitores das duas candidaturas continuariam os mesmos!