Por Gustavo Krause Os perfeitos idiotas latino-americanos estão furiosos.

Não é para menos.

Ultimamente, têm sofrido reveses, contrariedades e passam o recibo de um silêncio eloqüente e ressentido.

Que reveses e contrariedades?

Antes de enumerá-los, porém, algumas breves explicações do que vem a ser “O perfeito idiota latino-americano”.

Este personagem é alvo de um livro sério, bem-humorado, escrito por três ex-idiotas latino-americanos: o colombiano Plinio Mendoza, o cubano Carlos Alberto Montaner e o peruano Álvaro Vargas Llosa. “Ex”, porque esta doença é contagiosa, mas não é incurável.

Todos foram contaminados pela “doença infantil do esquerdismo”.

Em algum momento da vida, abdicaram da faculdade de pensar por conta própria; tornaram-se beatos da religião dominante, o marxismo e, levados pela corrente, aceitaram estereótipos e repetiram maquinalmente o lugar-comum dos clichês.

Montaner foi revolucionário cubano e os outros, mais jovens, eram militantes ativos de um substrato cultural que adocica com “ismos” a idiotice solene: estatismo, nacionalismo, protecionismo, estruturalismo, sob os quais florescem o patrimonialismo, o paternalismo, o populismo e a incontrolável corrupção.

Felizmente, abandonaram a visão conspiratória, determinante do pobrismo que é, de acordo com esta visão, obra dos outros e não o resultado da própria inércia empreendedora, da descrença na livre iniciativa associadas à expectativa escatológica segundo a qual, um belo dia, o Estado, o ogro filantrópico, resolve; o caudilho conduz à terra prometida; o Messias salva.

Embora publicado em 96, os autores perceberam, em 2007, um perigoso surto no continente e lançaram um novo livro mostrando que O idiota está de volta.

Pois bem, em recentes episódios, a resistente idiotia range os dentes, mas não dá a língua a torcer.

Vamos aos fatos. 1.

A derrota política do idiota-mor, Hugo Chávez, cada vez mais carcomido e mais parecido com o Trujillo, o Bode.

Ou negocia ou acaba com a oposição, golpeando o que resta de suspiros democráticos na terra do petróleo. 2.

A demissão de 500 mil funcionários cubanos que recebiam, no máximo, o equivalente a 30 reais por mês, jogados na arena dos micronegócios do chamado “cuentapropismo”, depois do disse-não-disse de Fidel sobre a falência do modelo cubano (ah, sim, o modelo exportador de revolução cubana na versão fidelista).

Afora, os permanentes maus tratos infligidos aos dissidentes. 3.

A concessão do prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês, bravo defensor dos direitos humanos, Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de prisão por ter sido signatário de uma petição subscrita por dez mil compatriotas exigindo reformas políticas.

A esposa está em “prisão domiciliar” e segregada do mundo. 4.

Por fim, a Academia Sueca rompe a tendência dominante da linha ideológica na concessão de prêmios literários e faz justiça a um dos mais brilhantes escritores da humanidade, Mario Vargas Llosa, (que já tinha perdido e esperança de vir a ser agraciado).

Surpresa maior foi a ênfase política dada à razão do prêmio: “Por sua cartografia das estruturas de poder e mordazes imagens de resistência, rebelião e derrota do indivíduo".

Do antigo e desiludido militante de esquerda ao moderno liberal de sólidas convicções democráticas, a verdade é que o escritor Llosa tem brindado seus leitores com obras de refinado estilo literário, profundidade social, densidade cultural, lucidez política e elegantíssimo senso de humor que dá sabor especial ao Elogio da madrasta.

Diante dos fatos, as autoridades brasileiras mantêm um ensurdecedor silêncio.

Covarde?

Conivente?

Pragmático?

Nem mesuras diplomáticas, nem comunicados anódinos do Itamaraty, nenhuma palavra foi dita diante dos riscos que correm os alicerces da democracia: a liberdade individual, a liberdade econômica, a liberdade de expressão, o estado de direito, exatamente quando o Brasil vive uma competição democrática em que todos estes valores devem ser claramente debatidos e firmemente assumidos.

De concreto, um gesto merece registro: nunca antes na história deste país, a seleção canarinha jogara contra o Irã.

O jogo foi um mimo do amigo Lula para o tiranete-chefe de estado iraniano que ameaça duplamente a humanidade: com a destruição em massa pelo uso da bomba atômica e com a destruição do sagrado direito à vida da mulher pelo ritual cruel das pedras insensatas.