Por Paulo Marqueiro, Chico Otavio, Fábio Brisolla e Leonardo Lichote, em O Globo.com O primeiro debate entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no segundo turno, realizado na noite deste domingo pela TV Bandeirantes, foi caracterizado por ataques do começo ao fim.

Depois de os dois elegerem a educação como tema fundamental, ao responderem a uma pergunta da produção da emissora sobre prioridade de governo, logo na primeira pergunta Dilma, exaltada, já partiu para o ataque ao abordar a questão do aborto.

Em todo o primeiro bloco, os dois candidatos assumiram um tom beligerante, com acusações mútuas sobre aborto, segurança e corrupção.

Ao fazer uma pergunta para Serra, Dilma disse que a campanha do tucano faz calúnias e difamações contra ela.

Ainda segundo Dilma, o vice da chapa e Serra, Indio da Costa, tem feito ataques a ela junto a grupos religiosos.

Serra devolveu a acusação com outro ataque: - Eu me solidarizo com quem é vítima de ataque pessoal.

Eu tenho recebido muito ataque nessa campanha.

Até blogs com seu nome fazendo ataques, não só a mim como à minha família, numa campanha orquestrada.

Agora, nós somos responsáveis por aquilo que pensamos e falamos.

A população cobra também conhecimento sobre os candidatos, qual foi sua história, etc.

Creio que vocês confundem verdades, reportagens, com ataques.

Por exemplo: sobre a Casa Civil, você disse que se tratava de invenção da imprensa.

Aborto, você disse que era favorável, depois disse o contrário.

Aí se trata de ser coerente, de não ter duas caras.

Dilma, ainda mais exaltada, aumentou o tom: - Acho que você deve ter cuidado para não ter mil caras.

A última calúnia contra mim, disse que minha campanha tinha aberto sigilos, hoje você é réu de (uma ação) por calúnia e difamação.

Se cuida, porque pode estar dando os primeiros passos (para cair) na questão da Ficha Limpa.

Inclusive acho estranho porque você regulamentou o aborto no SUS.

E sou acusada de coisas que não vou nem dizer.

Mas você regulamentou e eu sou a favor da regulamentação.

Entre prender e atender (as mulheres), eu fico com atender.

Sua senhora me acusa de uma coisa que é antiga.

Porque o Brasil está acostumado com tolerância e não com convivência que instiga o ódio.

Serra ironizou a acusação de Dilma, afirmando que a lei do aborto é de 1940, anterior ao seu nascimento: - A lei não libera o aborto, só em casos de risco para a mãe e risco para a paciente.

Em São Paulo, foi até implantada pelo prefeita Erundina, quando era do PT.

O que eu fiz foi que isso precisava ter uma norma técnica que balizasse os casos de aborto no SUS, que fosse feito sem risco para a mãe, só isso.

Mas você defendeu e passa a fazer o contrário.

Com relação a Deus, a mesma coisa.

Tem entrevista em que você diz que não sabe se acredita, depois vira uma devota.

Casa Civil: tem uma pessoa que foi braço direito seu e durante meses organizou um esquema de corrupção, e você diz que não tem nada a ver. » ENQUETE: QUEM GANHOU O DEBATE?

Ao abordar a questão de segurança, Serra disse que no Rio ocorreram 11 arrastões e perguntou a Dilma por que ela é contra a criação do Ministério da Segurança, uma das bandeiras de campanha do tucano.

Dilma aproveitou a pergunta para criticar a administração do governo de São Paulo. - Acho que fundamental é perceber que ela tem três aspectos, Justiça, penitenciária e segurança.

São Paulo teve uma rebelião que tomou as ruas.

A Secretaria penitenciária não conversava com a segurança pública.

Ele está dando uma receita que aqui em São Paulo fracassou.

O sistema penitenciário que devia saber quando haveria rebelião não sabia.

Não é passo de mágica.

O Rio está fazendo grande esforço, pelas UPPS, pacificado as comunidades através de ação preventiva e de outra ação, a autoridade, criando os territórios de paz.

Na réplica, Serra argumentou que Dilma não respondera: - Não respondeu por que é contra criar o Ministério da Segurança.

Em São Paulo, não houve rebelião significativa.

Em São Paulo, os homicídios caíram 70%, acima da média nacional, fato do qual muitos governos do PT poderiam extrair lições.

Não há um enfrentamento das bases do crime, do contrabando de armas e de drogas.

Nós vamos criar uma Guarda Nacional, vamos ajudar a frear a exportação de droga para o Brasil.

Vamos ter um cadastro nacional de criminosos.

E vamos também transmitir de estado para estado experiências bem-sucedidas.

Voltando ao tema, Dilma argumentou que o atual governo fez parcerias com os governos estaduais na área de segurança. - Até então, (a questão da segurança) era afeta só aos governos estaduais.

Outra coisa que você precisa se informar.

Já existe hoje a Força Nacional de Segurança Pública e a parceria entre ela, a Polícia Federal e as polícias (estaduais).Vamos comprar veículos não tripulados.

Eu acredito nesses dois caminhos: investimento em ações afirmativas em locais onde o tráfico domina.

O governo do qual você foi ministro não investiu em segurança. É bom você lembrar.

Eu fico indignada com a questão da Erenice.

Seu assessor Paulo Vieira de Souza fugiu com R$ 4 milhões de dinheiro de campanha.