Por Miguel Sales Hoje, no Brasil, de tudo pode haver no Legislativo, menos representação e feitura de leis.
Antes era possível, mesmo com toda falha, se obter o voto de opinião, aquele que se dá em razão das idéias do candidato.
Também o parlamentar não mais legisla, apenas, não raro, diz sim ao pacote que vem do Executivo.
Essa situação se alastra nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal.
Diante desse quadro, e considerando que tudo depende da política, o que fazer? É um teorema preocupante.
O homem, em essência, é um animal político.
Daí os sonhos, as idéias, os inconformismos, o querer fazer algo para dar um destino melhor ao meio em que se estar engajado.
Ora, como afirma Rousseau, não somos todos nós produto do meio?
Mas de que vale as ideias, se não se tem grana.
E às vezes essa só não basta, ainda é preciso ter um padrinho forte e sujar a ficha em algum tipo de corrupção.
Aliás, os valores estão invertidos.
Parodiando Caetano, “onde queres voto livre, sou vendido”.
Simplesmente se compra prefeitos, cabos eleitorais, se despreza o concurso público e está ganha a eleição.
E depois, esqueça-se povo e tudo o mais, nas palavras de Jessier Quirino.
Lamentavelmente, a condição de candidato, que deveria ser, pela semântica da palavra, fruto da pureza, da ética, do compromisso, do conhecimento, passou a ser, em maior parte, a expressão da compra de votos, de campanhas milionárias, das negociatas, do feudalismo político, da mistura da religião com as coisas do Estado.
Como, rezando pela cartilha do “politicamente correto”, um cidadão pode romper tal muralha e acreditar que se candidatando será eleito? É possível, não nego, mas a probabilidade é remota, como um prêmio em loteria.
Mas, assim como navegar, se candidatar é preciso.
Afinal, precisamos, mesmo com a nossa incômoda presença, mostrar os trilhos que percorrem a nossa “representação política”.
Que, no geral, na órbita parlamentar, pode representar muito bem o jogo de interesses de grupos, mas nunca os reais interesses do povo.
Alimentado pela argamassa da demagogia e da corrupção, eis a que ponto chegou a nossa tão decantada democracia representativa: um lastro de anti-representação.
E de todos os regimes conhecidos, a democracia representativa ainda é o menos defeituoso.
Como, então, encontrar uma saída para termos um modelo onde realmente os eleitos representem os eleitores?
A mudança, pela raiz, do sistema partidário, do sistema eleitoral, entre outras, em tese, pode significar alguma coisa.
Mas não adianta a lei do ficha limpa, se os corruptos usam as brechas da lei e com o beneplácito de um judiciário de castas adquire ou mantém um mandato bichado.
Também não adianta o financiamento público de campanha, se o caixa dois rolar solto.
Do mesmo modo, não se muda com as listas fechadas no cutelo dos caciques dos partidos.
Ora, longe da participação popular, eles vão escolher os seus.
E em assim sendo, tudo continuará como dantes no país de abrantes, como sentencia o dito popular.
Evidentemente, que a eleição majoritária, para o Executivo, tem outros contornos.
A sorte é chegar a ela por uma conjunção de partidos com viabilidade eleitoral.
De qualquer modo, também com raras exceções, a tal topo não se chega se antes não se percorrer os caminhos da eleição proporcional, mais penoso do que uma via crucis, sobretudo para os menos afortunados.
Bom, mas nesse artigo, o que eu queria mesmo é agradecer pelos livres e independentes 21.456 votos que recebi de parcela do povo pernambucano.
Para mim, que nem santinho suficiente tinha para a campanha, foi muito.
Alguns queriam que eu gravasse para o guia eleitoral algo vinculando ao Caso Serrambi.
Resisti e não fiz.
Não sou fariseu e nunca serei demagogo.
Se os frutos da árvore foram insuficientes, a semente permanecerá comigo.
Ademais, só fui candidato porque me condoí com a triste realidade de Ipojuca: uma ilha de riqueza cercada de pobreza por todos os lados.
Pois, apesar de possuir a maior receita proporcional do estado, seu IDH se assemelha ao do município de Araçoiaba, este apenas margeada pela palha da cana.
Em especial, agradeço ao povo sofrido, a sua parte mais consciente, de Ipojuca pelos 9.869 votos de confiança no meu ideal de Justiça e de cidadania, fazendo-me o candidato a deputado federal mais votado de sua história, esperando um dia retribuir tal gratidão, pois o meu coração não se cansa de ter esperança, para citar mais um dito de Caetano.
Afinal, como dissera Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não for pequena. É isso aí.