A cara sorumbática de Dilma em Brasília e o semblante alegre de José Serra em São Paulo espelham a grande vitória que a oposição ao governo Lula obteve neste domingo, quando a sociedade deu um claro recado ao presidente.

O Brasil não tem dono e quer debater melhor e mais profundamente os destinos do país.

A impressão que se tem é que Dilma e os petistas caíram das nuvens, pois acreditavam que iriam mesmo ganhar no primeiro turno.

Já Serra, que em São Paulo não cabia em si de contentamento, só esqueceu, em seu discurso de agradecimento, de reconhecer ade forma mais enfática a força de Marina, sem a qual não haveria segundo turno.

Disse apenas que ela contribui para a democracia no Brasil no dia de hoje. É fato, mas não foi justo com a colaboração para o adiamento das eleições.

Dilma, em seu discurso, já fez um aceno em direção à candidata do Partido Verde.

A eleição, como queriam alguns, foi mesmo decidida pelas mulheres.

Antes de Marina, Erenice Guerra colocou a eleição no segundo turno, ao fazer despencar as intenções de voto da petista.

Diferentemente de uma eleição em turno único, o segundo turno nas eleições de 2010 coloca a possibilidade de disputa real, sem interferência dos nanicos, com discussão de propostas.

Dilma não poderá fugir do confronto com o adversário tucano.

No papel de fiel da balança, a verde Marina Silva terá um papel importante no desfecho da eleição de 2010.

Pessoalmente, acredito que ela deve abster-se, porque tem interesse em voltar à disputa em 2014.

Acho difícil que declare voto em Dilma porque a ex-ministra da Casa Civil de Lula, não a Erenice, a anterior, Dilma, no governo humilhou Marina Silva até que ela abandonou o governo.

O partido verde, que já está coligado no Rio de Janeiro, pode vir a aderir ao tucano, conforme foi especulado pela direção do PV em São Paulo.

A ajuda da verde, involuntária ou não, salvou os tucanos de uma derrota fragorosa.

Caso tivessem perdido, estariam lavando a roupa suja em breve, com a busca de culpados.

Pelo lado dos tucanos, a expectativa é de que o governador Aécio Neves, do PSDB, assuma um papel mais importante na campanha do presidenciável José Serra.

Nos bastidores, consta que Aécio, depois de surgir como liderança reafirmada no tucanato, trabalha para tomar o comando do partido, numa articulação que contraria os interesses do atual presidente, Sérgio Guerra.

A oposição elegeu governadores de estados que representam mais de 40% do eleitorado e, sem o compromisso de ter que garantir o próprio mandato, a expectativa é que parta com mais disposição na defesa de Serra.

Em caso de derrota no segundo turno, esses governos servirão de contraponto político à continuação do poder petista no Palácio do Planalto, numa eventual administração federal de Dilma.

O mesmo vale para Dilma, que tem aliados dispensados de buscar o voto para si, como Fernando Pimentel, derrotado na eleição para o Senado em Minas Gerais.

Já o ex-ministro da Justiça Tarso Genro elegeu-se no RS e pode vir com tudo para a campanha nacional.

Neste domingo, Lula escondeu-se, deixou Dilma sozinha, mas em breve voltará ao ataque, como o principal cabo eleitoral do país, do alto de sua popularidade.

Neste segundo turno, como trata-se de outra eleição, o que deve imperar são as traições.

A briga é de gigantes.

Veja-se o caso da Bahia.

O baiano Geddel Vieira Lima foi rifado pelo PT, por Dilma e por Lula, e precisou ser acalmado pelo presidente da sigla e vice de Dilma, Michael Temer.

O partido promete cobrar a fatura do tratamento na composição do próximo governo.

Em 2006, Geddel foi agraciado com o Ministério da Integração Nacional, aquele mesmo que cuida da transposição.