O empresário Rubnei Quícoli disse que ficou “horrorizado” e se sentiu “lesado” ao receber a proposta de contrato da Capital Consultoria, empresa que pertence a um filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra.

A seguir, trechos de uma das entrevistas que o consultor deu à Folha.

Folha - Quando e como você foi apresentado à empresa Capital?

Rubnei Quícoli - Me foi apresentado o Marco Antonio [ex-diretor dos Correios].

Ele ficou durante um tempo como diretor dos Correios e me trouxe o [sobrinho dele, que trabalhava na Casa Civil] Vinícius, onde foram viabilizados esses e-mails para poder ir para a Casa Civil para demonstrar esse projeto. (…) Estive na Casa Civil junto com a Erenice, que era a secretária-executiva da Casa Civil.

A Dilma não pôde me receber, estava com outros afazeres.

Ela sabe do projeto, recebeu em 2005, se não me engano.

O documento foi encaminhado para o MME [Ministério de Minas e Energia]. (…) Eu fiquei horrorizado de ter que pagar R$ 40 mil por mês para eles terem um favorecimento de acesso.

Para que eu vou pagar se não vai sair [o crédito]?

Eles diziam que iria sair, para dar sustentação e eu pagar os R$ 40 mil.

E eu decidi com [os sócios] o Aldo e o Marcelo não pagar nada e esperar ver. (…) Erenice prometeu fazer algo?

Ela se colocou num patamar assim: “Vou ver onde eu coloco isso”.

Ela colocou que a Chesf seria a empresa recomendada porque está no Nordeste.

Nessa condição ela agiu corretamente. […] Até então eu nem sabia da existência da Capital, para mim o negócio estava sendo direcionado ao governo.

Eu não sabia que existia propina no meio, contrato, que eu teria que pagar.

Não dá para entender a pessoa deixar um filho [Israel Guerra] tomar conta de um ministério. É um projeto que foi investido muito dinheiro para parar por conta de propina.

O senhor recebeu e-mail com cobrança.

O que queriam?

A ideia principal era amarrar o aporte e a manutenção de R$ 40 mil para eles porque era final de ano.

A gente sabe como funciona Brasília.

Eles [a Capital] queriam receber antecipadamente uma mensalidade para poder se manter.

Quem está fazendo uma intermediação de R$ 9 bilhões e vai se preocupar com R$ 40 mil por mês?

Não dá para entender.

Como você reagiu quando pediram dinheiro?

Eu mandei, desculpe a expressão, para a puta que o pariu.

Falei: “Vocês estão de brincadeira?” [Disse] que não assinava nada.

Em que momento o Israel apareceu?

O que aconteceu depois?

Isso foi informação do Marco Antônio.

Ele falou que precisava de R$ 5 milhões para poder pagar a dívida lá que a mulher de ferro tinha.

Que tinha que ser uma coisa por fora para apagar um incêndio.

Quem era a mulher de ferro?

A mulher de ferro é a Dilma e a Erenice, as duas.

Não sei quanto é a dívida de uma e de outra.

Eu sei que a Erenice precisava de dinheiro para cobrir essa dívida.

O Marco Antônio é que pediu.

Eu falei: “Eu não vou dar dinheiro nenhum.

Eu estou fazendo um negócio que é por dentro e estou me sentindo lesado”.

Aí o Marco Antônio falou: “O Israel, filho da Erenice, bloqueou a operação porque você não deu o dinheiro”.

Isso é a palavra do Marco Antônio.

Eu respondi: “Não tenho conversa com bandido”.

Isso aconteceu há três meses.

Foi o último contato com eles.

Você esteve com o Israel?

O encontro foi no escritório do Brasília Shopping.

O Israel nunca pediu nada porque eu não dei chance.

Eu não sabia que ele era filho da Erenice.

Soube pelo Marco Antônio.

Quanto à atitude dele, barrar um negócio desse por conta do dinheiro me deixou totalmente nervoso, com atitude até agressiva