Por Sérgio Montenegro Filho, no blog https://polislivre.blogspot.com Já imaginaram se a Polícia Federal começasse a investigar a vida de cada candidato ao governo ou Senado, faltando menos de um mês para as eleições? É claro que a maioria deve ter a ficha limpa, transparente até.

Mas sempre aparece um ou outro com um rabinho de palha.

Foi o que aconteceu hoje no distante Amapá.

Talvez por avaliarem que estavam tão longe de onde as coisas acontecem, o governador Pedro Paulo Dias (PP) e o ex-governador Waldez Goes (PDT) tenham montado um esquemão que, segundo a PF, de 2009 até o momento já teria desviado R$ 800 milhões em verbas repassadas pela União ao Estado.

Dinheiro que seria destinado à educação.

Seria engraçado - e até um tanto reconfortante, admito - assistir ao desmonte de palanques favoritos, às vésperas do pleito.

Ver os caras já com a mão na faixa - loucos para dar continuidade aos seus esquemas de desvio de verbas públicas, pagamento de propinas e outros quitutes que a política do mal tem no cardápio - serem enquadrados pela PF “aos costumes”…

Você não ficaria feliz?

Principalmente você, desavisado, que pretendia votar no tal meliante?

Pois é.

Mas não vai acontecer dessa forma.

Pedro Paulo e Waldez Goes são os cabeças de uma quadrilha com mais 17 pessoas, que só foi presa ontem graças a uma investigação que começou em agosto de 2009.

Ou seja: levou um ano até pegarem os envolvidos.

E não será surpresa para ninguém se daqui a pouco surgirem na mídia políticos em defesa dos colegas detidos.

Já vimos esse filme antes.

Vão falar que foi perseguição política, que é um ato de campanha, e tal.

Isso sem falar no apoio importante que os dois acusados receberam recentemente. É de se supor que o presidente Lula desconhecia o esquema montado pelos aliados no Amapá.

Afinal, Lula sabe de muito pouca coisa.

Mas para grande azar, ele apareceu ontem no guia eleitoral amapaense, pedindo votos para Waldez Goes.

E já tinha gravado um depoimento para o programa do governador, que iria hoje ao ar.

Candidato à reeleição, Pedro Paulo assumiu o governo das mãos de Waldez Goes, que saiu para disputar o Senado, e hoje está em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto.

Mas seu companheiro de chapa lidera a disputa pelo Senado.

Se não for processado e tiver a candidatura cassada, é provável que a partir de 2011, Goes passe a integrar a honrada bancada do Amapá no Senado, comandada por ninguém menos que o inatingível José Sarney.

Embora seja maranhense, Serney foi eleito senador pelo Estado nortista que criou quando era presidente da República. É improvável que a “operação mãos limpas”, realizada hoje pela PF no Amapá, se repita em outros Estados até a data do pleito.

Mas não tem problema se acontecer depois.

Mesmo que não impeça a eleição de alguns fichas-sujas, pode contribuir para apeá-los do poder, mesmo depois de diplomados.