Ideia fixa Por ELIANE CANTANHÊDE BRASÍLIA - De Lula: “Eu acho que o empresariado aprendeu muito, o governo aprendeu muito, os sindicalistas aprenderam muito.

Acho que a imprensa vai precisar aprender um pouco ainda, porque nunca vi gostar tanto de notícia ruim”.

Tradução: ele “deu um jeito” nos que poderiam incomodar.

Deveria ter incluído bancos, movimentos sociais, a direita e a oposição.

Botou uns no bolso e todos no seu devido lugar: o lugar de dizer amém.

Só não conseguiu ainda “ensinar” a imprensa.

Mas avança nessa direção, depois de arrastar Dilma para a Presidência e os aliados em massa para os governos estaduais e para o Congresso, onde a previsão é de uma maioria como nunca antes neste país.

Exceto com a Arena, na ditadura.

Os escândalos contra tudo e todos surgiram da parceria do Ministério Público, da imprensa, de funcionários exemplares (ou contrariados) e do PT, até desembocarem em CPIs.

No poder, o PT tentou explodir os velhos parceiros.

E as CPIs?

Já no primeiro ano, 2003, o PT lançou a Lei da Mordaça contra o MP.

Depois, o Conselho de Jornalismo contra a imprensa e, por fim, o projeto contra funcionário que fala ou vaza documento.

Não vingaram, mas devem estar adormecendo por trás das investidas de Lula.

Ele é um fenômeno sob vários aspectos.

Tem 80% de popularidade, sua candidata caminha para comemorar uma votação histórica, e o novo governo vai assumir com a perspectiva de mais de 7% de crescimento econômico.

Logo, com tudo para dar certo.

Basta não errar.

Em vez de estar leve, feliz, deliciando-se diante da estrondosa vitória que se avista, Lula está armado, atiça os cães da internet e mira a imprensa, para desqualificar o último reduto do contraditório, da crítica, da investigação.

O que pretende com isso?

Unanimidade?

Nelson Rodrigues dizia que a unanimidade é burra.

Em política, tende a ser perigosa.

Bem não faz, e pode fazer muito mal.

Inclusive subir à cabeça.