O vivo carregando o morto Por Anatólio Julião, sociólogo O nosso folclore carnavalesco traz sempre consigo, ano após ano, a conhecida figura do morto carregando o vivo.
Nas eleições presidenciais e para governador deste ano, o que estamos presenciando é o vivo carregando o morto.
Quando estávamos na Suécia e alguém recebia algum pacote da família no Brasil contendo coisas da Terra, como charque, goiabada, guaraná Antarctica ou uma garrafa de Ypióca, convidava a brasileirada na cidade, para provar nem que fosse um pedacinho, ou tomar um gole, daquelas maravilhas.
Num desses pacotes, recebidos por Jorge e Tereza, em Lund, enfiaram um long play de Chico Anísio.
Passamos horas a ouvi-lo.
Uma das piadas contadas por Chico Anísio relatava as peripécias de um paupérrimo time de futebol do interior que num caminhão velho vai à cidade vizinha para uma partida fora de casa.
A cada cem metros o desmantelado caminhão estancava e todos tinham que descer para empurrar.
Ao chegar ao campo de várzea onde a partida seria disputada, o centro-avante desabafou: “Pô, tudo bem jogar fora de casa, mas precisava a gente trazer esse caminhão?”.
Pô, tudo bem que Jarbas disputasse o governo do Estado: a oposição não podia perder por WO e ele era o mais qualificado, em todos os sentidos, para enfrentar mais essa pedreira em sua vida.
Mas precisava trazer junto a turma do Serra? É que como sabiamente apontou João Humberto Martorelli em recente artigo publicado no JC, nunca se viu uma sequência tão escabrosa de erros políticos numa campanha como a do candidato José Serra – conduzida pelo gênio político de Sérgio Guerra –, entre os quais, o desespero por ter Aécio como candidato a vice; os elogios a Lula; a escolha do Índio; as imagens de Lula, novamente, no guia eleitoral; em uma palavra a fraqueza de espírito para disputar uma batalha como a que se desdobra.
O que teria sido de Hernán Cortés, se em lugar de queimar as suas caravelas para não deixar outra opção aos seus 150 homens que enfrentar os 10.000 astecas que tinham pela frente, tivesse optado por elogiar a Cuauhtémoc e seu fantástico exército?
Com certeza teria tido a mesma sorte que Frei Sardinha nas mãos dos nossos aborígenes canibais.
Pô, tudo bem que Jarbas Vasconcelos com a sua coragem de leão conduza, como um Cid Campeador, a nossa desigual batalha.
Mas precisava, a cada 100 metros, estar descendo da carroceria da campanha para empurrar o caminhão velho em que José Serra e os seus estrategistas políticos decidiram transportar o time?
Precisava a gente trazer esse caminhão?