No Blog de Josias Conforme já noticiado aqui, a estratégia de campanha de José Serra deu 100% errado.
Na outra ponta, os planos de Lula revelaram-se corretos nos detalhes.
Materializado em todas as pesquisas, o êxito de Lula é tonificado nas dobras da última sondagem do Datafolha, divulgada neste sábado (21).
Decorridos escassos três dias de propaganda eleitoral, Dilma Rousseff se descolou de Serra.
Ela foi a 47%.
Ele ostenta 30%.
A diferença saltou de oito para 17 pontos.
Contabilizados apenas os votos válidos, a pupila de Lula vai a 54%.
Significa dizer que, se a eleição fosse hoje, Dilma liquidaria a fatura no primeiro turno.
Movido a intuição, Lula assentara sua tática eleitoral em oito estacas.
Por ora, permanecem todas em pé.
Vai abaixo um inventário do sucesso: 1.
A antecipação: No Brasil, são três as evidências que permitem a um presidente detectar a chegada da síndrome do fim do mandato.
Súbito, começa a beber cafezinho frio.
Os aliados ensaiam o desembarque.
E irrompe à sua volta um irrefreável burburinho acerca da sucessão presidencial.
Sob Lula, tudo aconteceu às avessas.
Aquecido pelos índices de popularidade, o cafezinho queimava-lhe a língua.
Legendas como o PMDB o bajulavam.
A sucessão?
Foi antecipada em dois anos pelo próprio presidente.
Levou Dilma à vitrine em 2008. 2.
O bloqueio: Ao impor Dilma ao PT, Lula interditou um debate interno que levaria sua legenda à disputa fratricida.
Cristã nova no petismo, a ex-pedetê Dilma não era a preferida de ninguém.
O próprio Lula cogitara outros nomes.
Antonio Palocci, o primeiro da fila, fora apeado do pedestal pelo caseiro Francenildo.
Antes dele, a alternativa José Dirceu perdera-se nos desvãos do mensalão.
Num instante em que petistas como Patrus ‘Bolsa Família’ Ananias e Tarso ‘Justiça’ Genro esboçavam os primeiros movimentos no tabuleiro, Lula deu-lhes o xeque-mate.
No início de 2008, o jogo no PT estava jogado.
Dilma foi às pesquisas com um percentuais mixurucas –2% a 3%.
Em maio daquele ano, roçava os 10%.
No final do ano, FHC dizia, em privado, que a presença de Dilma no segundo turno de 2010 era fava contada.
Previa que ela não teria menos do que 30% dos votos. 3.
Ciro Gomes: Lula decidira que seu governo seria representado na campanha por um único nome.
Nos subterrâneos, pôs-se a tramar contra Ciro Gomes.
Empurrou-o para a a disputa paulista.
Ao perceber que Ciro resistia à idéia a despeito de ter transferido seu domicílio eleitoral para São Paulo, Lula sufocou-o.
Por baixo, tirou dele todas as perspectivas de alianças com legendas governistas.
Pelo alto, acertou-se com o governador pernambucano Eduardo Campos, presidente do PSB.
Minado por sua própria legenda, Ciro ruiu como candidato de si mesmo. 4.
O plebiscito: Lula pressentira que 2010 repetiria um embate que, desde 1994, submete as disputas presidencias brasileiras a um bipartidarismo de fato.
De um lado, o PT.
Do outro, o PSDB.
Guiando-se pelas pesquisas que atestatam a impopularidade da era tucana, Lula decidiu levar FHC à roda. “Seremos nós contra eles”, decretou.
Num jantar realizado no Alvorada em dezembro de 2009, Ciro dissera a Lula que sua estratégia estava errada.
Arriscava-se a converter Dilma em candidata mais cotada para fazer de Serra o próximo presidente da República.
Lula deu de ombros.
Dizia, já nessa época, que a eleição seria definida num turno.
A seu favor. 5.
A megacoligação: No início de 2010, enquanto o tucanato se consumia em dúvidas –José Serra ou Aécio Neves?— Lula cuidava de reproduzir ao redor de Dilma o consórcio partidário que lhe dá suporte no Congresso.
Mirava o tempo de TV.
Dizia que Dilma, por desconhecida, precisava de uma vitrine televisiva ampla.
Simultaneamente, num movimento iniciado em 2008, Lula exibia sua escolhida em pa©mícios.
Arrancava-a do gabinete, batizava-a de “mãe do PAC”.
Dava musculatura política a uma técnica jamais submetida ao teste das urnas.
Manuseando o prestígio pessoal e afrontando a lei eleitoral, acomodou ao lado de Dilma uma megacoligação de 11 legendas. 6.
O PMDB: Na costura da aliança, Lula deu prioridade ao PMDB.
Ordenou ao PT que reduzisse a ambição de eleger muitos governadores.
Deixou claro que o palanque nacional se sobrepunha aos estaduais.
Enquanto Serra adiava sua candidatura, retardando a formação dos palanques regionais da oposição, Lula empurrava o PMDB goela abaixo do PT.
No último lance, impôs, em Minas, o pemedebê Hélio Costa aos petês Fernando Pimentel e Patrus Ananias. 7.
O vice: Lula demorou a digerir Michel Temer.
Informado de que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, alimentava pretensões políticas, desaconselhou a filiação dele ao PP de Goiás.
Mostrou a Meirelles a porta do PMDB.
Tramara fazer dele o vice de Dilma.
Em movimento simultâneo, Temer costurou algo que parecia impossível.
Temer uniu o PMDB da Câmara, que traz no embornal, ao PMDB do Senado, comandado por José Sarney e Renan Calheiros.
Virou pólo de concórdia de uma legenda tisnada pela discórdia.
Depois, Temer puxou suas fichas.
Pragmático, Lula intuiu que não valia a pena pagar pra ver.
Em troca da flexibilização da traquéia entregou a Dilma um PMDB unido como nunca antes na história desse país. 8.
A despedida: No estágio atual da campanha, Lula dá o último ponto no tricô que deu um nó na cabeça da oposição.
Converte a emoção da despedida do presidente superpopular em arma eleitoral.
Já verteu lágrimas num ato de 1º de Maio, num comício em Curitiba e numa entrevista de televisão.
Virou o paizão que transfere o povo aos cuidados da grande “mãe”.
Uma ex-poste que ameaça converter José Serra no mais preparado ex-futuro presidente que o Brasil já teve.