Ouvi de muitos jornalistas que não valia a pena ler o livro de Rands, A Era Lula, porque só haveria bajulação com o chefe.
Não é verdade.
Rands mostra-se muito lúcido, embora não seja realmente econômico nos elogios, o que natural.
Na obra, ele demonstra não ter receio de tratar de fantasmas como o Mensalão, tema proíbido por algumas correntes do partido e, para quem, ele nem existiu.
O deputado federal defende a tese de que, se Lula e o PT tivessem tido a coragem de promover a reforma política quando chegaram ao poder, a compra de votos no Congresso não teria ocorrido. “Não se pode menosprezar o potencial de que dispunha o governo Lula, sobretudo no auge de seu capital político imediatamente às vitórias de 2002 e 2006, para o aperfeiçoamento da deocracia”, escreve. “Tivesse colocado a reforma de nossos sistema político e partidário como prioridade inicial dos dois mandatos, talvez as crises que emergiram a partir de 2005 (ano do Mensalão) não tivesse ocorrido ou pelo menos não teria a proporção que tiveram”. “Permanece o troca-troca entre os partidos, uma forte migração para os neoaliados, e o jogo tradicional das relações clientelistas que há muito dão à sustentação dos governos no Brasil”.
Embora Lula tenha dito, inicialmente, que nada sabia, e depois que era caxa dois dos partidos, prática comum, Rands, mesmo assim, faz cobrança pública. “Pecaram por timidez e excessiva disposição à adptação de um modo de funcionamento do sistema político que não foi inventado por eles” E qual a razão para o erro de avaliação? “Renunciaram ao patrocínio decidido à reforma política, aparentemente para evitar o desperdício de energia política, tendo optado por continuar utilizando os procedimentos tradicionais para garantir a maioria parlamentar”.
Rands diz que o episódio só beneficiou a direita. “A ironia é que esta renúncia, no momento imediato às crises como a do chamado mensalão, acabou gerando o combustível para que a oposição desfechasse os maiores ataques da direita brasileira às forças de esquerda desde o Golpe Militar de 1964” acredita.
Uma frase lapidar, do próprio Rands, poderia fomentar alguma reflexão sobre o episódio. “Numa sociedade democrática ninguém é detentor a priori do monopólio da virtude”.
O PT achava que era, pelo menos da boca para fora.