De Petrolina No livro que lança hoja na Cultura, a Era Lula, o deputado federal Maurício Rands defende que Lula só conseguiu inaugurar um modelo econômico apto à inserção soberana dos países em desenvolvimento ao mundo globalizado e, ao mesmo tempo, capaz de promover crescimento combatendo a desiguldade e a pobreza porque promoveu uma ruptura com o pensamento da esquerda tradicional e manteve a política econômica do governo anterior. “O desafio passou a ser o de encontrar caminhos para inibir as iniquidades geradas por um mercado sem controle, mas, todavia, sem prescindir de algumas de suas vantagens, como a maior eficiência na alocação dos recursos da sociedade”, escreve. “Ninguém discorda da necessidade de ousadia em um país como o Brasil.
A questão é que esta ousadia tem que partir das bases reais da sociedade brasileira de suas potencialidades.
Trata-se de incluir milhares de deserdados que vegetam nas grandes periferias sem os direitos básicos de educação, segurança, saúde, trabalho, habitação”.
Rands defende que a firme condução da política econômica vem viabilizando um crescimento econômico que está liberando recursos para as políticas sociais em dimensões jamais experimentadas no pais.
Para ele, aquilo que se está fazendo a partir dos resultados obtidos com a politica macroeconômica é que permite uma avaliação sobre o significado político do governo Lula. “Os críticos das opções feitas pelo governo Lula não percebem as consequências de uma política econômica populista, ainda que sob verniz de esquerda.
Sim, porque, do desabastecimento, da inflação, do desemprego e da recessão que fatalmente adviriam já se sabe que conseguem defender-se apenas a classe média alta e os ricos”.
O deputado cita como exemplo o Peru de Alan Garcia. “Ao final de seu governo, todos os peruanos, ricos e pobres, saíram perdendo, embora as medidas de Garcia tivessem o objetivo retórico de favorecer os últimos”. “Se o governo Lula insistisse em tentar aplicar uma política econômica não factível, isto equivaleria a renunciar a liderança a sociedade brasileira nas mudanças por ela sinalizadas nas eleições de 2002 e 2006.
Alguns, mantidos nos paradigmas antigos, podem até sentir uma sensaçao de conforto espiritua diante da autodemonstração de coerência.
Mas é difícil não imaginar alguma perplexidade diante da recusa da maioria às suas propostas, que, cheias de boas intenções, são incapazes de sensibilizá-las”, aponta. “Embora isto não tenha sido aceito por alguns da esquerda brasileira, a ruptura com o esquema tradicional de viés estatista impóe-se pela evidência da crise fiscal, da impotência relativa do Estado e pelos novos padrões de conhecimento e de tecnologia”.
Entre as críticas mais comuns, o que se diz é que a política de austeridade fiscal seria a capitulação aos ditames do FMI e do capital financeiro.
Os regimes de metas de inflação e de câmbio flutuante seriam a continuidade das políticas liberais de FHC e Malan.
O projeto de parceria público privada seria privatização disfarçada. “O que surpreende é que alguns críticos discordam da opção do governo Lula pela política fiscal austera, pela política monetária baseada no regme de metas de inflação e pelo câmbio flutuante apenas porque os referidos instrumentos foram introduzidos no país pelos governos anteriores.
Eles queriam que o governo Lula os abandonasse apenas para demonstrar suas diferenças e o fazem sem apontar alternativa convincente e plausível.
Alguns doa atuais críticos do governo Lula, inplicitamente, aceitam a idéia de que os antigos adversários teriam monopólio das conquistas do pensamento e da experiência econômica contemporânea”, diz.
Nestas formulações, um dos guru de Rands é o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro.
Numa das citações, o ex-governador do RS diz que a grande revolução é incluir as pessoas na sociedade de classes e nos direitos democráticos e sociais mais elementares, para combater a possibilidade de barbárie.
Não por acaso é o candidato do PR no RS e está na frente das pesquisas.
Ele chama essa formulação de desenvolvimento inclusionário, que rejeita o projeto da esquerda tradicional. “A construção do processo de crescimento com distribuição de renda e combate à desigualdade e à pobreza fica mais difícil sem a superação do esquematismo determinista, sem o abandono do vício teórico de que o jogo é sempre de soma zero, em qua qualquer avanço nas condições de vida dos de baixo ó pode ser obtido mediante penalização dos de cima”, defende Rands.
A base teórica também leva em conta as idéias de Jorge Castãneda. “(Os avanços sociais só podem ser obtidos) reconhecendo os limites do Estado, sejam fiscais, sejam de eficiência gerencial, insistindo na enevitabilidade do abandono da idéia de que o Estado deve desempenhar papel crucial no esforço industrializador”.
Para ele, outorgar um papel central também no setor privado e aceitar que o mercado deve ter uma função dominante no processo, representa uma enorme ruptura.