O GESTOR DE MAQUETES Por Anatólio Julião Lançado em 1970 por William Filstead, o livro “Qualitative Methodology” logo se tornou um best-seller entre estudantes de Sociologia na Europa.
O mérito do texto reside em desmistificar a solidez de análises puramente quantitativas nas ciências sociais, através de métodos e técnicas estatísticas mais ou menos complexas, e mostrar a necessidade de abordagens qualitativas capazes de conferir maior confiabilidade a resultados numéricos nem sempre fiéis à realidade estudada.
O seu método de trabalho foi simples e criativo.
Compilou num só volume diversos artigos científicos, publicados por estudiosos de diversas especialidades, ao qual deu o nome de “Metodologia Qualitativa”.
Entre os artigos incluídos no livro, destaca-se “Words and Deeds: Social Science and Social Policy”, de autoria do professor Irwin Deutscher, da Syracuse University Youth Development Center, resumindo interessante e divertida pesquisa conduzida pelo professor Richard T.
LaPiere que durante dois anos percorreu os Estados Unidos, de costa a costa, em companhia de um casal de origem asiática, frequentando hotéis e restaurantes de luxo.
Partindo da hipótese de que as pessoas nem sempre fazem o que dizem, seis meses após as visitas o professor LaPiere enviou, a partir de sua universidade, questionário aos hotéis e restaurantes freqüentados perguntando se os mesmos atendiam clientes asiáticos. “Claro que não!”, responderam todos, exceto um único que reconheceu, sim, atender asiáticos, exatamente o de uma senhora que criou dificuldades para admiti-los ao seu estabelecimento.
Veio-me à lembrança o artigo “Palavras e Feitos”, do meu velho livro de texto do curso de Sociologia, ao ver o prefeito do Recife João da Costa atuando como cabo eleitoral dos candidatos chapa-branca.
Pensei que talvez também sobre o nosso burgomestre devesse ser escrito algum artigo científico, do tipo “Sonhos e Feitos”, onde a hipótese a ser testada seria: um prefeito deve trabalhar pela sua cidade realizando as obras que a mesma precisa para o bem estar da população, ou ficar fazendo política de duvidosa qualidade, ao dar as costas aos aliados que o alçaram ao posto, colocar servilmente a prefeitura a serviço da candidatura A ou B e viver encantado com as belíssimas maquetes que apresenta como se fossem obras?
O estudo comprovaria cientificamente que João da Costa, classificado no ranking nacional como o pior prefeito do Brasil, na verdade não passa de um insuperável Gestor de Maquetes.