Por Evaldo Costa, secretário de Comunicação do Estado Escrevi algumas linhas sobre comentário postado no blog de Jamildo, que me pareceu injusto e equivocado. (Veja aqui) Pra quê?
Jamildo aperreou-se e pegou pesado numa resposta mais raivosa do que apoiada em argumentos.
Não satisfeito, foi além, importando intervenção do bravo jornalista Renato Lima, cheia de conhecimentos fresquinhos, obtidos em universidade americana, onde cursa mestrado ou doutorado.
Claro que é bobagem.
Os acadêmicos americanos que fizeram o desastre da crise financeira internacional tinham é que vir aprender no Brasil.
Mas, enfim.
O complexo de colonizado ainda é forte no nosso país.
Não é caso, portanto, deste modesto escriba, jornalista formado em Faculdade, mas moldado na labuta diária das redações, aventurar-se num debate acadêmico sobre os fundamentos da teoria econômica liberal.
Não pretendi fazer isso no post anterior nem farei agora.
Não posso, porém, ficar quieto.
Como se diz nas assembleias, fui citado e peço a palavra, pela ordem, para colocar duas ou três coisinhas que considero essenciais: Em primeiro lugar, Renato só pode estar zoando com a minha cara quando se pergunta de onde retirei afirmação de que o neoliberalismo defende “a desregulamentação da economia e a liberdade absoluta dos chamados agentes do mercado.” Ora, retirei de jornais, revistas e livros.
Também ouvi discursos e fiz muitas entrevistas.
Mas, nem precisava disso tudo.
O futuro PHD, francamente, me surpreendeu ao interrogar o óbvio que se exibe, sorridente, a ulular na esquina…
Coleções de velhos jornais e revistas em qualquer edição dos anos oitenta/noventa contém fartas, incontáveis citações que não deixam dúvidas.
Só era moderno e contra o atrasado quem repetia o lenga-lenga.
Só a título de exemplo, transcrevo abaixo parágrafo do insuspeito Roberto Campos, retirado de artigo publicado na Folha de São Paulo em julho de 1995: “Fundamentais são as medidas de incremento da demanda da mão-de-obra: privatização de estatais, pois o governo falido perdeu capacidade de investir; abertura a capitais estrangeiros, para aumentar oferta de empregos; desregulamentação da economia, para reduzir custos e liberar energias empresariais; reforma da previdência, para transformá-la num instrumento de poupança para alavancagem do desenvolvimento; e, ``last but not least", a flexibilização das relações capital/trabalho, para diminuir o custo da contratação”.
Não me pergunte se se assemelham ou se confrontam as ideias de Roberto Campos com as dos “anarco-capitalistas, tipo Ayn Rand” (muito prazer!) O que até os mais ignaros socialistas conseguem perceber é que Bob Fields não fez qualquer menção a políticas sociais ou a mecanismos de distribuição de renda.
Ao contrário, o então senador, ídolo de todos os liberais, neo ou pós, apregoou a transformação da Previdência Social “em instrumento de poupança”, a flexibilização das leis do trabalho para diminuir os custos da contratação e a desregulamentação da economia “para liberar energias empresariais”.
Ou seja, transferência de renda, sim, mas de baixo para cima (com perdão pela referência que, eventualmente, joga “ricos contra pobres”).
Ele estava errado, eu sei, Jamildo sabe e, claro, o estudioso Renato Lima nem precisaria das lições americanas para saber.
Eles acompanham as cada vez mais freqüentes revisões.
O próprio consenso de Washington foi reescrito, numa tentativa desesperada de salvá-lo dos escombros da história (Valeu, Walter…) Aliás, o próprio John Williamson, economista americano formulador do malfadado consenso, reconheceu que errou em entrevista dada ao Estadão em abril do ano passado.
Vejam o que ele disse: “Claro que houve uma falha.
Com o benefício do olhar retrospectivo, vemos que foi um erro dar tanta liberdade.
Algumas coisas que aconteceram no sistema financeiro foram claramente excessos.
Acho certo apertar a regulação, mas não é preciso também usar os princípios corretos.(…) Também é preciso ter uma supervisão prudencial macroeconômica.
Tradicionalmente, a ênfase é inteiramente na supervisão prudencial microeconômica, e isso não está certo, porque os bancos são atingidos por choques similares, simultâneos.
Havia uma suposição implícita na regulação de que isso não ia acontecer, mas aconteceu”.
Registre-se que a mencionada entrevista foi dada no momento em que o mundo era sacudido pela crise financeira internacional e o receituário imposto por instituições como Banco Mundial e FMI (de onde Williamson veio) revelava-se catastrófico.
O segundo registro que não posso deixar de fazer é que a revisão liberal de Williamson, Hayek e Renato Lima não pode permitir que haja fuga das responsabilidades.
O Brasil escapou sem maiores danos aos efeitos da marolinha por ter desobedecido aos bem pensantes e mantido saudável prática intervencionista na economia.
Pernambuco cresceu na crise porque ousou na concretização de pesado programa de investimentos públicos que geram emprego e renda.
Hoje, depois do jogo jogado, muita gente defende estas políticas e até faz contorcionismos lógicos para não reconhecer os erros que cometeram.
Veja o aquele Mr.
Williamson disse à Veja, no final de 2002, logo depois da primeira eleição de Lula: “Há muito interesse e curiosidade sobre como um governo do PT vai funcionar (…) Não se sabe quanto Lula tem de experiência para fazer um governo forte, como o Brasil precisa.
A maioria teria preferido José Serra.
Mas todos estão conscientes da obrigação de trabalhar com quem foi escolhido pelo povo brasileiro.
Essa é a postura no Departamento de Estado, no Tesouro e no Fed, o banco central americano.
Se mais tarde Lula se tornar um inimigo, como o chileno Salvador Allende trinta anos atrás, essa postura pode mudar.
Mas acredito que ninguém está pensando dessa maneira”.
Ou seja, liberdade, direitos, respeito ao voto, mas só até certo ponto.
Só se não incomodar demais.
P.S.: As intervenções seguintes ficarão sem resposta.
A assinada por Edilson por vício de origem.
Nada mais é do que tentativa de chaleirar o blogueiro que lhe abre espaços.
A outra, por não ser digna de classificação.
P.S.2: Dispenso-me de contestar as críticas ao governo Eduardo Campos.
O povo de Pernambuco já consagrou o melhor governador do Brasil.
Não por acaso.