Por Renato Lima Na pauta política deste Estado, que tanto se discute pessoas, é um feliz sopro ver uma discussão de ideias e políticas públicas.
E, como já tinha dito antes, nutro simpatia com Evaldo, por isso que me dignei a escrever algumas linhas.
Coloquei em texto o que, vez ou outra, esperando uma coletiva no Palácio das Princesas, antes de uma entrevista, a gente conversou de forma espontânea.
O secretário cita Roberto Campos como exemplo do liberalismo ortodoxo.
Grande liberal, sem dúvida, mas não ortodoxo.
Foi Roberto Campos que ajudou a criar o BNDE, hoje BNDES, portanto um banco público.
Nas palavras dele: “Sem dúvida, o BNDES exerceu uma função importante como parteiro da indústria brasileira.” (Depoimento concedido ao Projeto Memória BNDES, 1982 – disponível aqui Foi ainda Campos que criou o FGTS, a chamada poupança do trabalhador e fonte de financiamento da casa própria.
No trecho por citado por Evaldo, se lido com um mínimo de atenção, veria que o que Roberto Campos escreveu é o contrário do que Evaldo conclui.
Começa Campos com “fundamentais são as medidas de incremento da demanda de mão-de-obra” e lista algumas sugestões.
O que significa “incremento da demanda de mão-de-obra”?
Gerar mais empregos, secretário!
E o que nos diz a velha curva de oferta e demanda?
Que esse produto mais demandado terá um preço maior, o que significa dizer que ele defende uma agenda que aumente os salários reais dos trabalhadores.
E Roberto Campos defende a privatização pela incapacidade do Estado, na época em que escrevia, de investir, portanto, de gerar mais empregos.
Dessa forma, não é um ortodoxo, que defendesse a privatização independente da capacidade de investimento do Estado.
Quando o Estado tinha poupança, ele próprio ajudou na criação de um banco público.
Se o melhor caso de liberal ortodoxo é Roberto Campos, que apresente outro.
Liberal, mas não ortodoxo.
O secretário também afirma que, por recomendar a flexibilização das leis do trabalho para diminuir os custos de contratação, Roberto Campos está defendendo uma política de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos.
Pois lhe pergunto: o governador Eduardo Campos, ao optar pelo modelo das Organizações Sociais que contratam médicos como celetistas em vez de estatutários, portanto sem concurso que engessa com a estabilidade, flexibilizados e sem aposentadoria integral, está transferindo renda dos mais pobres para os mais ricos?
Está Eduardo Campos seguindo a receita de Roberto Campos?
Campos é Campos?
Sobre o “Consenso de Washington” e sua “morte”, recomendo a leitura do artigo “Morte do Consenso de Washington?
Os Rumores a esse Respeito Parecem Muito Exagerados” de Fábio Giambiagi e Paulo Roberto Almeida.
Disponível aqui Por fim, no P.S 2, Evaldo afirma “dispenso-me de contestar as críticas ao governo Eduardo Campos”.
Só deixando claro, no meu caso, não o critiquei pelo seu “neoliberalismo”, como a opção pela privatização de cadeia, hospitais, bônus por desempenho a continuidade de muitas políticas do governo anterior de Jarbas, como os incentivos fiscais.
Muito pelo contrário.
Essa é, na minha visão, a face boa: o afastamento dele do socialismo que Evaldo Costa ainda insiste em defender.
Do socialismo, Eduardo está “de Costa”.
Mas é preciso acabar com essa demagogia de praticar uma política numa linha e um discurso em outra direção.
Campos é Campos.
O neoliberal Eduardo Campos e o discurso político do socialismo