Caso o governador Eduardo Campos sofresse um ataque populista e sugerisse a reestatização da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), é muito provável que conseguisse realizar o intento com facilidade.
Primeiro, porque a Assembleia Legislativa está de joelhos ante o Executivo, inebriada com os atrativos do poder de nomeações e distribuição de verbas do orçamento.
Depois, porque a maioria da população, passado alguns anos da venda, reprova a privatização.
O sentimento foi captado por uma pesquisa realizada pelo Instituto Maurício de Nassau para entender O Que Pensa o Eleitor Pernambucano?
O material é bastante amplo e virou livro, assinado pelos pesquisadores Adriano Oliveira, Carlos Gadelha Júnior e Roberto Santos.
Será lançado na próxima semana e deve fazer sucesso, porque ajuda os políticos a entender como raciocina a maioria da população, sobre os mais diversos assuntos.
Aos fatos: quando os eleitores são questionados sobre a privatização da Celpe, nada mais nada menos do que 70% reprovam a privatização.
Apenas 14% são favoráveis à venda da ex-estatal.
Na avaliação dos pesquisadores, o percentual, altíssimo, consolida um fenômeno chamado de estadolatria, dos pernambucanos, como é conhecido o amor ao Estado (pelo menos às suas benesses). 20% dos entrevistados que possuem nível superior completo e têm renda acima de cinco salários mínimos aprovam a privatização da Celpe.
Os resultados apontados no levantamento são semelhantes aos da aprovação às privatizações tal como realizadas pelo governo FHC.
O que poucos analistas tem a coragem de dizer é que a privatização do setor fracassou porque a oposição petista e socialista, muito forte na Chesf, não queria a implantação do livre mercado de energia (e demais áreas), atacando a venda pelo aspecto dos privilégios monopolistas.
Algumas considerações.
Os números também provam que o discurso político do petismo venceu e alojou-se na cabeça dos pernambucanos médios.
Com bases nestes números, dá para entender melhor também porque os socialistas apostam tanto no tema da venda da Celpe, voltando até a empinar um site especial chamado Caso Celpe pela Juventude Socialista.
Não se trata, assim, de pura guerra ideológica, mas cálculo político, associando Jarbas e seus aliados à privataria.
O curioso é que - já escrevi isto aqui antes - a estratégia foi desenhada lá atrás pelo próprio ex-governador Miguel Arraes, para quem a venda da Celpe seria a operação dos precatórios de Jarbas.
Que revide não?
O restante é repetir até cansar que vira uma verdade.
Não por acaso, embora não dê para fazer uma relação direta, na última pesquisa Datafolha a rejeição do ex-governador Jarbas é bem mais alta do que a rejeição de Eduardo.
Também pode-se dizer que Eduardo Campos já ganhou a primeira eleição batendo nas contas da antiga estatal, ao disputar com Mendonça Filho o governo do Estado.
Para sorte de Eduardo e os estatistas locais, apesar desse processo de privatização, a Celpe continuou com o monopólio de energia doméstica no estado de Pernambuco.
Ou seja, no lugar do governo sair totalmente de cena e deixar o livre mercado funcionar, deu o privilégio monopolista a uma empresa - agora em mãos privadas.
No fim das contas, pouco - ou nada mesmo - adiantou.
As mesmas características das empresas estatais atingem a Celpe: péssimo serviço associado a altos preços.
Com todo respeito ao eleitor que emerge das pesquisas da Nassau, fui e sou totalmente a favor da venda.
A privatização é uma das formas de diminuir a máquina estatal, com sua burocracia colossal.
As empresas estatais, além de tenderem à ineficiência por falta de concorrência, encarecem o produto, e quem sempre paga pela ineficiência é o consumidor.
Não foi ninguém que me contou, eu vi como repórter de Economia do Jc o cabide de empregos que aquilo era.
A Celpe servia como caixa dois dos governos, antecipando ICMS quando o Estado estava falido e não faltava populista à esquerda ou à direita para fazer bondades à custa dos cofres públicos.
Só por ter tido a coragem de fazer a privatização Jarbas mereceria uma estátua em praça pública!