No blog de Míriam Leitão Para o escritor e historiador chileno Jorge Castañeda, a política externa brasileira vive uma situação esquizofrênica.
O Brasil defende até o extremo a democracia em Honduras, mas é indiferente, segundo ele, à morte de um preso político cubano ou à fraude nas eleições do Irã.
Para Castañeda, há um problema de identidade. - O Brasil não consegue tomar decisão sobre a questão da Colômbia, por exemplo.
Nesse conflito com a Venezuela, não é quem grita mais, porque os dois são bons em armar escândalo, mas se as Farc são um movimento revolucionário armado, que luta por suas causas, ou um grupo terrorista.
O Brasil é incapaz de dizer que as Farc são uma organização terrorista - disse ele, ontem à noite, no debate “Diálogos do nosso tempo”, mediado pela jornalista Míriam Leitão.
Ele acha também que o país encontrará resistências, talvez invencíveis, para conseguir um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Na visão do historiador, a maioria dos países da América Latina está trilhando um caminho parecido, enquanto poucos, como a Venezuela, seguem em direção contrária.
Ele diz que a democracia está sendo sustentada por uma classe média baixa que, nos últimos anos, passou a ter acesso a bens de consumo, crédito e educação. - Nos últimos 15 anos, uma grande quantidade de pessoas teve acesso a moradia, carros, férias, celulares e crédito.
Essa base social sustenta a democracia representativa, o respeito aos direitos humanos e às liberdades na América Latina - afirma o ex-chanceler do México.
Por conta desse cenário, da estabilidade econômica e da execução de políticas sociais parecidas começa a haver redução da desigualdade na região. É o que diz Castañeda.
Por outro lado, onde não há uma classe média baixa forte, como na Venezuela, o caminho percorrido está sendo outro. - Não são ditaduras, regimes autoritários, com exceção de Cuba, mas países com retrocessos democráticos importantes, relacionados às políticas econômicas e sociais que estão seguindo.
Sobre a situação de Cuba, aliás, ele acha que não haverá transição enquanto Fidel Castro estiver vivo.