Depoimentos de testemunhas e imagens em vídeo captadas em ação controlada pela Polícia Federal evidenciam policiais rodoviários federais, no exercício de atividades de patrulhamento, recebendo dinheiro de particulares que transitavam por via federal, em troca da imediata liberação dos veículos, sem a devida fiscalização.

Trata-se do esquema conhecido como “sanduíche”, por meio do qual o motorista do veículo parado em uma fiscalização, antes mesmo de qualquer solicitação de vantagem indevida pelo policial rodoviário federal que faz a abordagem, entrega-lhe o porta-documento do veículo com uma nota de dinheiro dentro, a título de propina, a fim de que o policial pegue o “recheio”, ou seja, o dinheiro, e, de imediato, devolva o “sanduíche” (documento) sem nenhuma fiscalização, liberando-o para seguir viagem.

Houve testemunha que afirmou que se o motorista não entregasse a propina, o policial iria procurar uma multa para aplicar, ainda que o veículo estivesse todo em ordem.

De acordo com as apurações, outros denunciados mantinham esquemas com associações de tranportes alternativos, que contribuíam, semanalmente, com propinas para que os veículos dos seus associados trafegassem sem qualquer fiscalização policial.

Cachaça - Provas obtidas com interceptação telefônica e vídeo-monitoramento demonstram policiais rodoviários federais associados num esquema de corrupção continuada mediante cobrança de “pedágio” de cachaça e gêneros alimentícios.

Quase todos os caminhoneiros que trafegavam pela rodovia deixavam uma garrafa de Pitú para os policiais.

A ação dos agentes ocorria da seguinte forma: os policiais rodoviários federais sinalizavam para que o veículo parasse; depois, “prestadores de serviço” dos policiais traziam um balde para recolhimento da carga.

Os produtos arrecadados eram guardados em um quartinho e posteriormente divididos entre os policiais e uma parte ficava com os seus ajudantes.

Vales-tocos As investigações demonstram que os denunciados estruturaram um sistema de cobrança de “pedágio” do qual todos se beneficiavam, no momento em que eles davam cobertura uns aos outros, tecendo uma rede de troca de favores, na qual cada um se abstinha de fiscalizar e multar as empresas e motoristas “protegidos” dos demais.

Um desses protegidos distribuía “vales-tocos” aos seus motoristas, como garantia de que os veículos seriam liberados sem qualquer problema mediante a apresentação do “documento” aos policiais.

A segurança dos usuários das rodovias não era levada em consideração pelos denunciados, que só pensavam em aumentar seus rendimentos.

Entre as empresas de maior porte envolvidas no esquema de propina para pagamento de policiais estão a Via Mix Distribuidora LTDA, LDB Transporte Cargas LTDA, Unilink Transportes Integrados LTDA, Braspress LTDA, SM Recife Logística e Armazenamento LTDA, Transportadora Mackenzie, Rodoviária Ramos LTDA, Usina Bulhões e Pedreira Vitória das Pedras.

Operação Boa Viagem - A Operação Boa Viagem consiste em investigações levadas a efeito pela Polícia Federal desde dezembro de 2006, em cumprimento à requisição do Ministério Público Federal.

Por conta das apurações, no mês passado, a Justiça Federal decretou a prisão preventiva de cinco policiais rodoviários federais, além de 25 conduções coercitivas, 30 afastamentos cautelares da função de fiscalização e patrulhamento das rodovias, e 62 mandados de busca e apreensão, sendo dez em repartições públicas, sete em empresas e 45 nas residências dos envolvidos.