A premiação de ontem, para o portal da transparência do governo do Estado, é cercada de muito simbolismo para o governo Eduardo.

O portal da transparência do seu governo foi classificado como o terceiro melhor do País, ficando abaixo apenas da União e do Governo de São Paulo.

Pernambuco foi o único Estado nordestino a figurar entre os oito primeiros classificados.

Não apenas porque permite fustigar o antecessor, como fez um servidor de segundo escalão. “Recebemos o governo com transparência zero e vamos encerrar a gestão como o terceiro Portal da Transparência do Brasil”, declarou Ricardo Dantas, Secretário Especial da Controladoria Geral do Estado. É preciso voltar um pouco antes na briga política entre os eternos desafetos e lembrar a fatídica operação dos precatórios, ainda no governo Arraes.

Eduardo saiu muito chamuscado do episódio e nunca mais foi o mesmo.

Na verdade, comeu o pão que o diabo amassou, antes de dar a volta por cima.

Consta que era obrigado a pegar avião em Alagoas, para evitar ser constransgido ao embarcar no Aeroporto dos Guararapes, para Brasília.

A mágoa profunda ajuda a explicar o rancor, o ódio que se percebe em certa ala dos socialistas, contra jarbistas e mendoncistas.

No começo da gestão, ainda assombrado com esse fantasma do passado, sempre com receio de voltar a sofrer com questionamentos éticos, o próprio governador fez um alerta a sua equipe, de que alguém que se metesse em operações suspeitas seria literalmente detonado do governo.

Assim, obter o aval da Associação Contas Abertas é uma importante conquista, daquelas que podem ser apresentadas em guia eleitoral.

De fato, a colocação das contas públicas na internet foi uma promessa de campanha do então candidato Eduardo Campos em 2006.

Já no dia 02 de janeiro de 2007, Eduardo assinou o seu primeiro decreto como governador que foi exatamente o da criação do Portal da Transparência de Pernambuco.

No dia três de março daquele ano, o site entrava no ar.

Tanto controle da sociedade, no entanto, não significa menos problemas administrativos.

A operação mais emblemática desta nova gestão foi o escândalo do showgate, que resultou no catapultamento do ex-secretário de turismo Sílvio Costa Filho.

Quem descobriu a falcatrua?

A controladoria do Estado é que não!

Tudo veio a tona graças a uma briga paroquiana, por votos numa cidade do interior.

Chateado com a arrogância do deputado federal Silvio Costa, pai do deputado estadual e então secretário, Sérgio Guerra detonou o esquema.

Quem garante que não tem mais arquivos secretos para a campanha?

De onde vem um podem existir outros?

Ou não?

Uma coisa que me intriga pessoalmente é saber se Eduardo Campos teria aceito tão facilmente a demissão de Silvinho se Guerra não tivesse 14 dos 16 prefeitos aliados no palanque de Eduardo, votando por sua reeleição.

Longe de mim dizer que Eduardo rifou um aliado pela reeleição, que fique bem claro!

Eduardo precisa muito de Guerra não apenas nestas eleições e depois desenvolverei esta tese.

Voltando ao tema inicial, Eduardo merece os parabéns, assim, porque aprendeu a dar valor à transparência.

Se já dava, dá mais valor ainda, por tudo que passou de desgaste público.

Finalizo com uma pequena história para exemplificar a afirmação.

Em meados de 1996, corria o terceiro governo Arraes, eu era um jovem repórter de Economia do JC.

Eduardo havia deixado a secretaria de governo para assumir a Fazenda, já que Pedro Eugênio, então secretário, havia se recusado a assinar a operação dos precatórios.

Pois bem.

Eu tinha o péssimo hábito de ler o diário oficial todos os dias.

Em certo dia, verifiquei a publicação de um comunicado para o lançamento de títulos pelo estado.

Avisei a minha chefia e tentamos levantar mais informações.

Era coisa grande, mais de R$ 400 milhões.

O estado estava se envididando, para gastar em quê?

A Secretaria da Fazenda transformou-se em um coco.

Fechada em si mesma, não aceitou prestar qualquer informação.

Os fazendários, idem.

No final daquele mesmo ano, graças a também uma briga paroquiana entre senadores de Santa Catarina, o congresso acabou criando uma CPI dos Precatórios e Pernambuco acabou sendo levado de rodo.

O Eduardo Campos dos precatórios daquela época não é o mesmo Eduardo Campos que passou pelo ministério de Ciência e Tecnologia e depois virou governador.

Ser transparente é uma obrigação do gestor, de todo gestor, não um gesto de vontade.