A vida não é mais a mesma Por Monaliza Brito Fico triste todas as vezes que recebo a noticia de que um jornal abandona sua versão “de papel”.
Parece um pedacinho de sonho que vai embora.
Sempre adorei jornais impressos com o desprendimento de quem aprendeu a apaixonar-se pelas pequenas coisas da vida.
Gosto de sentir o cheiro, de tocar, de carregar para lá e para cá…
Gosto de ver as páginas amareladas pelo café que displicentemente deixei cair enquanto lia, e de ser a primeira a ler para não receber os cadernos fora de ordem.
Mas o que mais me atrai nos jornais impressos é a minha própria imaginação.
Aquele calhamaço de papel me faz pensar em jornalismo guerreiro, combativo, em máquinas antigas, em prensas que param para receber um furo de última hora.
Mesmo sabendo que hoje o processo é informatizado, sempre penso no início, no jornalismo romântico – ou que eu, em devaneios, romantizei.
O papel é um símbolo dos meus sonhos mais secretos.
Do tempo em que o jornalista é que corria atrás da notícia e não o inverso.
Quando não haviam redes sociais, google, celebridades instantâneas, assessorias entupindo a caixa de mensagem de releases.
Desperto para uma saudades de coisas que, nos meus 26 anos, não vivi, ou vivi pouco.
A expectativa de esperar pela edição do dia seguinte, quando não havia o plantão da TV.
O som do tec-tec das máquinas de escrever e, mais tarde o barulho mais suave dos teclados e computadores.
A figura do jornalista munido de bloquinho de papel e caneta, tentando anotar tudo o que se passa ao redor para correr de volta para a redação antes do deadline.
Imagens de antes e de agora, que se misturam.
Passado e presente, realidade confundida com trechos de filmes, de livros, de histórias contadas por quem viveu um jornalismo sem pressa.
Foi com esse pedaço de papel que persiste exibindo orgulhoso nas bancas as principais notícias que aprendi a ler.
Em voz alta.
De posse do suplemento infantil eu corria para o fundo do quintal e lia os textos para ninguém.
Para mim.
Para ao desejo de um dia fazer parte daquele grupo seleto que me contava sobre o mundo de um jeito tão bacana.
O jornal impresso para mim tem o gosto da menina que fui e dos sonhos que construí.
E a cada vez que um deles é extinto, sou forçada a lembrar que já sou grande e a vida não é mais a mesma.
PS do Blog: Monalisa é uma jovem jornalista apaixonada por jornais.
E diante da notícia do fim da edição impressa do Jornal do Brasil, enviou este desabafo que fala da sensação de estar ficando um pouco orfã. “Estou certa de não ser a única representante desta nova geração a senti-la”.