Por Terezinha Nunes Expoente da liberdade de imprensa e da luta pela implantação da democracia no Brasil, o Jornal do Brasil, que chegou a atingir maior índice de circulação entre os grandes jornais brasileiros, possuindo, no seu apogeu, assinantes em todos os estados, está deixando de circular na versão impressa esta semana, levando, com sua despedida das rotativas, os sonhos de milhares de jornalistas que nele trabalharam ao longo de todos esses anos e de leitores que se acostumaram a citar a frase que ficou famosa “deu no Jornal do Brasil”, ou “saiu no JB”, que viraram sinônimo de credibilidade e isenção.

Seria imprudente citar todos os jornalistas, cronistas, literatos, que escreveram ou se formaram na redação do JB.

O esquecimento de um só deles poderia ser imperdoável, de forma que me limito a falar da presença do jornal no Recife e em Pernambuco.

Nas décadas de 70 e 80, o Jornal do Brasil tinha uma grande e respeitável sucursal em Pernambuco, onde despontaram nomes como Ricardo Noblat, Antonio Martins, Nabig Jorge Neto, Roberto Menezes, Divane Carvalho, Felix Filho, Bete Salgueiro, Letícia Lins, Bernardo Ludermir - que chegou a chefiar a equipe por vários anos - fotógrafos como Natanael Guedes e muitos outros focas ou reporteres de renome, alguns depois chamados para trabalhar em outros jornais e revistas daqui ou ainda nas sedes dos jornais do Rio e São Paulo.

A atenção que o JB dava ao Nordeste na época, primeiro através da Condessa Pereira Carneiro, sua proprietária, depois do seu esposo e dirigente do JB,Nascimento Brito, fez com que o jornal criasse na Sucursal Recife, na década de 80, uma editoria regional, pela qual respondí até deixar o jornal, no princípio da década de 90.

Era um orgulho trabalhar no JB.

Havia entre os jornalistas dos jornais locais uma contínua esperança de pertencer à equipe da sucursal onde se respirava a liberdade de expressão.

Também se destacava a escola de jornalismo que ensinava o repórter a apurar bem uma matéria, ouvir os dois lados, para respeitar o contraditório, e ,sobretudo, caprichar no texto.

Lia-se o JB saboreando cada palavra escrita, cada pensamento externado.

Foi no JB que primeiro se subverteu um pouco o lead, no formato original, para dar mais leveza ao texto jornalístico.

Também fazia escola a famosa coluna Informe JB, a mais bem informada sobre o que acontecia no Brasil.

Notas curtas, na medida, que revelavam furos memoráveis e que não tinha um titular específico no seu início, sendo escrita por várias mãos, inclusive os bravos jornalistas pernambucanos.

Saber que o jornal vai continuar on line, ou seja, através da Internet, é um consolo mas a saudade do jornal impresso não deixa ninguém escapar dela.

Leio hoje que alguns dos jornalistas que ainda permanecem na redação, esperando sua desativação, passaram mal hoje pela manhã no Rio de Janeiro.

Há muitos anos deixei o JB mas não me esqueço dele, das alegrias e, sobretudo, do orgulho de ver um texto publicado e depois falado de boca em boca de norte a sul do Brasil.

O JB morre mas não a esperança que plantou no coração de milhares de jornalistas brasileiros.