Por Edilson Silva Há poucos dias tive a satisfação de participar de um acontecimento revestido de imensa simbologia política: o lançamento da biografia do ex-ministro Armando Monteiro Filho, intitulada “Foi assim”.
Trabalho bonito finalizado pela editora Bagaço.
No evento fui presenteado com carinhosa dedicatória em meu exemplar e no exemplar de Heloisa Helena - a quem representei na oportunidade -, alcançadas após mais de duas agradáveis horas na fila de espera, pois havia, nas palavras do ex-ministro, uma multidão presente.
Experimentei a verdade de suas palavras, numa espera que tinha de Bruno Maranhão ao governador Eduardo Campos, passando por Ney Maranhão e outras tantas personalidades.
Além das dedicatórias, fui agraciado também com o privilégio de constar entre os que escreveram depoimentos em sua biografia, fato que me deixou muitíssimo lisonjeado.
Já respeitava muito Dr.
Armando pelo pouco que lhe conhecia, por seu apego à democracia e à reforma agrária.
Com sua biografia em mãos, que nos permite fazer um passeio leve pelos bastidores do poder central no Brasil num de seus períodos recentes mais intrigantes e também pela política em Pernambuco no mesmo período, meu respeito converteu-se em admiração.
Todos sabem que Dr.
Armando se negou a participar da conspiração que viria a vitimar o governo João Goulart, do qual foi ministro da Agricultura.
O que pouca gente sabe é que os golpistas chegaram a oferecer-lhe o ministério da Justiça, recebendo deste um sonoro não.
Homem firme.
Como ministro, estava responsável por uma das principais reformas de base de Jango, a reforma agrária, e chamou ninguém menos que Dom Helder Câmara para ajudar a compor sua proposta, que na Câmara Federal tinha como relator o então deputado Plínio de Arruda Sampaio – outra biografia pedagógica -, hoje candidato à presidência da República pelo PSOL.
Homem de espectro político amplo esse Dr.
Armando.
Em 1962, ao ver seu então partido, o PSD, render-se ao pragmatismo e à polarização na disputa pelo governo estadual em Pernambuco entre João Cleofas e Miguel Arraes, lançou-se numa candidatura de protesto, independente.
Preferiu a derrota eleitoral com vitória moral a buscar chafurdar no poder sem ela.
Pagou o preço.
Homem de princípios.
Considerado moderado no PMDB, com a anistia política e a chegada de Brizola do exílio, foi fundador do PDT.
Logo ele, um moderado.
Mas é que antes de ser moderado, Dr.
Armando parece não gostar de caminhos de menor resistência.
Homem desacomodado.
Em tempos de desastres ambientais, o Código Florestal que hoje buscamos preservar como resistência contra a insanidade dos ruralistas, chefiados pelo relator do novo código, deputado do PC do B paulista Aldo Rebelo, foi concebido em 1962, na gestão do então ministro da Agricultura Armando Monteiro Filho.
Homem de visão.
O fato de Dr.
Armando ter sido sempre um empresário, contraditoriamente – tomando-se como base a regra prevalecente na política -, torna sua biografia ainda mais interessante e admirável.
Usou a condição de empresário para fazer política de forma independente.
Fato raro na história.
Não fez da política uma extensão de seus negócios.
Também pagou um preço.
Homem absolutamente republicano.
A política e o poder passaram por dentro de Dr.
Armando, sem alterar-lhe a espinha dorsal.
São praticamente 85 anos de vida, tempo de sobra para perder-se nos labirintos, contradições e descaminhos do pragmatismo que age quase como força de gravidade na política.
Mas Dr.
Armando, sempre ao lado de Dona Do Carmo, sua esposa, preferiu chegar até aqui desse jeito, e contar aos mais moços que é possível e necessário fazer política com dignidade e com ética, sem render-se ao realismo cinzento dos nossos dias.
Bela biografia.
Presidente do PSOL-PE e candidato ao governo de Pernambuco