“A alma nasce velha e se torna jovem.

Eis a comédia da vida.

O corpo nasce jovem e se torna velho.

Eis a tragédia da alma.” Oscar Wilde.

Por Anatólio Julião, sociólogo Em Pernambuco a tragédia tem donos.

O candidato chapa-branca ao governo do Estado, Eduardo Campos e o seu padrone, o Presidente Lula, dela se apossaram para fazer campanha eleitoral, literalmente na lama.

As tragédias causadas pela chuva são recorrentes em Pernambuco, resultado da omissão de sucessivos governos que preferem distribuir minguados paliativos aos flagelados de que encetar políticas públicas de prevenção e correção do meio ambiente que se antecipem às mesmas.

Diante do flagelo, anunciaram um bilhão para socorrer as vítimas, depositaram pouco mais de 100 milhões na conta do Governo do Estado e repartiram – vergonhosa esmola – cerca de quatro e meio milhões de reais entre dezenas de prefeituras, em valores que oscilam entre duzentos e trezentos mil reais.

Para iludir ainda mais os incautos, liberaram o crédito, o FGTS e o 13º para as vítimas, sabendo que o comércio deixou de existir, a maioria não tem FGTS e, para os poucos que tem emprego regular, comprometer agora o 13º significa, tão somente, garantir a penúria de dezembro.

Tergiversar tem sido o modus operandi do Governo Federal.

A inovação, introduzida pela administração “socialista”, foi a performance rocambolesca no cenário dos acontecimentos.

Helicópteros, soprando lama em todas as direções, aterrissando no epicentro dos acontecimentos, os “reis dos pobres”, em desengonçadas botas de borracha, caminhando, com pés de cromo alemão, no meio da pobreza para mostrar o seu compromisso com o povão, o rabo de olho sempre checando para ver se as câmeras do guia eleitoral não perdiam um detalhe sequer dos atos de salvação.

Falo, porque já vivi a experiência.

Em 2005, fui escalado pelo então Secretário Executivo da AMUPE, Dr.

Jesus Ivandro, para percorrer os municípios devastados pelas chuvas, da Zona da Mata ao Sertão, e elaborar um relatório circunstanciado sobre os estragos encontrados que servisse para embasar as declarações de estado de calamidade ou de emergência das cidades.

Do distrito de Natuba, em Vitória de Santo Antão, cuja exuberante produção de hortaliças tinha sido lavada pela enxurrada, passando por Gravatá e Chã Grande onde o rio destruíra, respectivamente, a Ponte do Comércio e um pontilhão de ferro, ao município de Floresta onde, alagada, a vegetação da caatinga tinha-se convertido em bizarro mangue, até Carnaubeira da Penha, onde não consegui entrar porque o riacho que cruza a rodagem de barro, enfurecido, corria com ares de Tocantins, enfim em todos os rincões do Estado, a devastação foi de cortar coração.

Entre Arcoverde e Cruzeiro do Nordeste a correnteza, de tão forte, separou a cabeceira de uma ponte da BR-101.

Orientado pela Polícia Rodoviária Federal, passava um carro por vez, o motorista rezando para que a água que lambia a ponte por baixo não a arrastasse de vez naquele preciso momento.

Essa ponte ficou longos meses servida por uma terminação de grossos tabuões de madeira.

Em reuniões na Secretaria Estadual de Produção Rural, com o Dr.

Márcio Watts e o então Major, hoje, por competência e seriedade, Coronel D’Albuquerque, da Codecipe, foram fechados os relatórios e tomadas, sem estardalhaços, as providências pelo Governo do Estado.

O socorro prometido pelo Governo Federal, por sua vez, começou a chegar, em parcelas, somente dois anos depois.

Transcorridos cinco anos do temporal, penso que essas verbas não devem ter sido ainda totalmente liberadas. É que aproveitar a desgraça dos outros para organizar caravanas eleitoreiras, sempre acompanhado pela equipe do guia eleitoral, é de um vergonhoso oportunismo.

Assim como fazer campanha em velórios e enterros, ou em campo de futebol ou em cenário de “barroada de trem com marinete”.

Há de haver um mínimo de compostura.

Antes de se preocupar com a montagem do seu parangolé eleitoral com vistas à eleição de 3 de outubro próximo, sua excelência deveria estar rezando diariamente ao meu Padim, Padre Cícero Romão Batista do Juazeiro, para que as verbas federais efetivamente cheguem e que a comovente situação enfrentada pelas populações da nossa Mata Sul possa ser, pelo menos, minorada.

O que tem sido visto até o momento, com diáfana clareza, são as manifestações de solidariedade do povo brasileiro, de todos os rincões do País, que tem assumido, anonimamente, o socorro aos flagelados. É que o candidato chapa branca, Eduardo Campos, tendo herdado os piores defeitos do seu avô, não herdou nenhuma de suas grandes virtudes, entre as quais a da solenidade austera.