Foto: Jailson Lima Por Pedro Eugênio, deputado federal do PT As horas passavam tão rápidas como as águas.

As pessoas corriam desesperadas, levando o que podiam.

Alguns decidiam ficar em locais mais altos, jamais atingidos por cheias anteriores.

Em breve se arrependeriam da decisão pois perderiam a vida ou seriam salvos por helicópteros ou balsas dos bombeiros ou do exército.

Ao fim, devastação total.

Cena de guerra, de bombardeio, de tsunami, mas agora, sabemos, devastação causada pelas águas de nossos rios da mata sul.

Pernambuco e Alagoas, irmãos sempre, agora no luto, a chorar mortes e tudo o que se foi. “Trabalhei tanto para ter minhas coisas e agora não tenho nada” dizia uma jovem senhora, às lágrimas.

Pessoas acinzentadas pela cor da lama se digladiando por alimentos jogados fora por um mercadinho, em plena rua.

Quarteirões inteiros destruídos, casas jogadas a baixo.

A expressão “não restou pedra sobre pedra” passa a ser literal, retrato exato da demolição das águas.

Chegam as doenças, mas os hospitais e postos de saúde também se foram.

O governo estadual monta hospitais de campanha com apoio do exército e de voluntários.

As pessoas juntam o que podem e fazem doações.

A praça do Derby está repleta.

O governo pede que as pessoas separem as doações por itens, pois o trabalho de fazer a triagem para a distribuição requer muito tempo.

Pede também mais voluntários para ajudar.

Vem o presidente Lula, sobrevoa Cortês, Água Preta, Barreiros, toda a mata sul e anda nas ruas de Palmares, vendo de perto a cidade em escombros e o desespero das pessoas.

Chegam duzentos milhões do governo federal para ações de defesa civil em Pernambuco.

Mas calcula-se ser necessário muito mais.

Há uma estimativa de, no mínimo quinhentos milhões.

O governador Eduardo cria grupo de gestão da crise, reúne-se com ministros, decide criar processo sumário de desapropriação de terras em áreas altas, longe dos rios, para construir dez mil habitações para os desabrigados.

Os jornais mostram que os donativos chegam aos abrigos, mas que há milhares de vítimas abrigadas em casas de parentes que não conseguem ser vistas pelas autoridades.

São as vítimas invisíveis.

Quanta dor, quanto desespero.

Temos que manter a pressão.

Criar um amplo programa estadual de gestão de riscos aqui e em cada estado e exigir que os onze bilhões do PAC II, voltados para ações de prevenção de riscos, sejam ampliados e transformados no maior programa de urbanização da nossa história, fazendo contenção de encostas aonde é possível, remoção e relocalização de habitações onde necessário, na Região Metropolitana do Recife, na Mata e em todo o estado.

Fazendo ações de macro e micro drenagem.

Projetando e construindo barragens de contenção nos nossos rios, inclusive revendo a capacidade das já construídas na bacia do Capibaribe de suportar o provável aumento na concentração de chuvas que já ocorreu agora na Mata Sul.

Cada bacia dos rios de nosso litoral requer cuidados ambientais como o replantio de matas ciliares e barragens de contenção, remoção de construções e de aterros ocorridos em suas margens.

Um grande plano de ação que, no momento em que o país cresce, se desenvolve e redistribui renda, atue no mesmo sentido, concedendo segurança e condições de moradia digna para nossa gente.