Por Sérgio Montenegro Filho do jornal do Commercio Cuidar do cofre de uma campanha eleitoral é, sem dúvida, a missão mais espinhosa entre todas as atribuições da equipe de um candidato.
O escolhido para a função tem que atender, no mínimo, a dois predicados básicos: confiança e discrição. “Dinheiro sempre atrai a atenção.
Por isso, um tesoureiro tem que ser confiável e invisível”, recomenda, em reserva, um experiente marqueteiro.
Nos últimos anos, porém, a função de coordenador financeiro da campanha virou sinônimo de problemas, graças a alguns casos que ganharam notoriedade exatamente por quebrar a regra da invisibilidade.
Dois grandes escândalos envolvendo tesoureiros ficaram na memória do brasileiro: o do empresário alagoano Paulo César Farias, chefe das finanças de campanha de Fernando Collor, e o do sindicalista Delúbio Soares, à época encarregado do dinheiro do PT nacional.
Por conta disso, desde 2006 os tesoureiros passaram a ser escolhidos muito mais criteriosamente pelos candidatos majoritários.
Inclusive porque após o escândalo do mensalão – protagonizado por Delúbio Soares, em 2005 – a Justiça Eleitoral endureceu as regras de prestação de contas, na tentativa de coibir o já tradicional caixa dois das campanhas.
O anúncio dos comandantes das finanças dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) só reforçou essa tese.
São eles, o ex-prefeito de Diadema José Fillipi Júnior e o ex-vice-presidente do Banco Itaú Sérgio Freitas, respectivamente.
Ambos, segundo seus chefes, atendem a todos os requisitos necessários ao cargo.
Da mesma forma, os nomes escolhidos pelos dois principais candidatos ao governo de Pernambuco para a ingrata função até o momento não merecem retoques.
Após sucessivas campanhas tendo o hoje deputado federal Edgar Moury Fernandes como tesoureiro, Jarbas Vasconcelos (PMDB) optou por outro auxiliar histórico, o engenheiro Roberto Pandolfi, que embora neófito nesse cargo em especial, sempre integrou as coordenações das campanhas do PMDB.
Já o governador Eduardo Campos (PSB) preferiu não mexer no time vencedor de 2006.
Trouxe para a sua coordenação financeira o coronel Sebastião Pereira Lima Filho, que na campanha anterior atuou no setor.
Conhecido pelo estilo discreto, Pandolfi vem colaborando com Jarbas desde a sua primeira gestão na Prefeitura do Recife (1986-88), onde atuou como presidente da Companhia de Transportes Urbanos (CTU).
Na administração seguinte do peemedebista (1993-96), foi secretário municipal de Finanças e, depois titular da Secretaria de Obras.
Nas duas gestões estaduais de Jarbas, Roberto Pandolfi não ocupou cargos formais, mas jamais saiu da órbita do Palácio do Campo das Princesas, onde funcionava como um conselheiro político do amigo de longa data.
Foi graças à essa relação de confiança com o candidato, somada à afinidade que desenvolveu com o deputado Raul Henry (PMDB) – escolhido por Jarbas como o “cardeal” da campanha deste ano – que Pandolfi terminou escolhido para a função.
Ele será auxiliado pelo ex-secretário de Infra-Estrutura do governo Jarbas, Fernando Dueire, que traz no currículo a experiência de ter coordenado as finanças da campanha de Mendonça Filho (DEM) a governador, em 2006.
Juntos, os dois devem administrar um orçamento apertado.
Embora as oposições tenham estabelecido para a campanha majoritária um teto de gastos de R$ 25 milhões, os próprios artífices da aliança jarbista avaliam como pouco provável que o montante total seja arrecadado. “Somos oposição. É uma situação menos favorável para arranjar recursos.
Mas como o candidato é Jarbas, quem sabe conseguimos angariar mais doações?”, admite um jarbista.
DISCIPLINA A escolha de um oficial da reserva da Polícia Militar também pode ser vista como um indicativo da seriedade com que o governador Eduardo Campos pretende tratar a questão das finanças de campanha.
Em 2006, o coronel Pereira Lima auxiliou o então tesoureiro da Frente Popular, Tadeu Lira.
Agora, lhe foi conferida a titularidade do cargo.
Homem da estrita confiança de Eduardo, ele é considerado “prata da casa” pelo currículo, que inclui a chefia da Casa Militar e a presidência do Detran, na terceira gestão de Miguel Arraes (1995-98).
Atualmente, no governo Eduardo, Pereira Lima preside a Pernambuco Participações (Perpart), função da qual deve se desincompatibilizar ainda esta semana para assumir a coordenação financeira.
Disciplinado, cauteloso e respeitado por todos, caberá ao coronel administrar um orçamento cujo teto estipulado é equivalente ao dos adversários: R$ 25 milhões.
De acordo com aliados do governador, no entanto, o tesoureiro terá ao seu redor um grupo de “arrecadadores”.
Gente cuja missão é atrair contribuições junto a empresários e outros segmentos de potenciais doadores de campanha.