Por Alberto Dines, no Observatório da Imprensa Vai chover, o tempo vai virar, o clima está mudando?

Aparentemente banais, essas perguntas hoje resumem uma das mais graves aflições do planeta.

E a nossa mídia não percebeu o seu papel conscientizador neste processo.

Uma nuvem negra no horizonte pode representar algo mais tenebroso do que algumas gotas de chuva aqui embaixo.

O dilúvio que desabou há duas semanas sobre o Nordeste poderia ter sido menos desastroso se os alarmes fossem acionados com antecedência.

Pouco adianta identificar a formação de um “evento meteorológico máximo” se não existe uma rede de comunicação confiável, capaz de levar esses avisos aos governantes e governados.

Os ingleses sabem quando pendurar o guarda-chuva no braço porque os seus jornais, rádios, televisões – e agora sua internet – jamais esquecem de avisá-los de que vai chover, ventar ou nevar.

Ainda que levemente.

A mídia brasileira nunca prestou muita atenção à previsão do tempo, os editores a tratam como obrigação, chatice que só interessa aos idosos, imaginam que ninguém as lê, por isso não vale a pena caprichar, nem investir.

Nos telejornais em horário nobre, as lindas “moças do tempo” não conseguem explicar que a [temperatura] mínima em Curitiba nada tem a ver com a [temperatura] máxima em Tocantins.

A culpa não é delas, é do jornalismo mundano e superficial que se adota no Brasil.

A obsessão pelos números – no caso a temperatura máxima e mínima – eliminou os dados analíticos e contextuais.

O barômetro e o anemômetro são tão uteis ao leitor quanto a coluna de mercúrio do termômetro.

Satélites e computadores oferecem elementos conjunturais que devem ser convertidos em informação sobre sensação térmica, duração, intensidade e periculosidade dos fenômenos.

Nada casual Este Observatório já tratou deste serviço público repetidas vezes.

Agora é obrigatório trazê-lo de volta diante da repetição e intensidade das tormentas – e porque as recentes plásticas operadas no Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo foram cosméticas e implacáveis com a meteorologia.

Ambos encolheram ainda mais os quadrinhos do tempo da primeira página, esquecidos de que são o elo entre as mudanças climáticas e o cotidiano dos leitores.

No Estadão o quadro do tempo para o estado de São Paulo ou para o Brasil (na edição dita nacional) perdeu a sua porção essencial: desapareceu ou tornou-se irrelevante o pequeno texto que indicava a movimentação das massas de ar frio ou quente e demais elementos para uma razoável antecipação.

A Folha (que vai muito na onda do Estadão) manteve a sua seção de meteorologia com dois mapas (estadual e nacional), desacompanhado de avaliações complementares.

O Globo oferece o mais completo conjunto de informações meteorológicas (dividas pelas zonas do Rio e regiões do estado, capitais do país e do mundo), mas é produzido por um empresa especializada.

Este é o problema: quantos jornais, rádios e emissoras de TV regionais dispõem de recursos e disposição para investir num serviço que os jornalões paulistas esnobam de forma tão flagrante?

O site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) fornece continuamente, online, um excelente acervo de informações meteorológicas, mas esta massa de informações precisa ser sintetizada e traduzida em linguagem corrente.

Há redatores de meteorologia em nossas redações?

Quantas escolas de jornalismo oferecem cursos de jornalismo científico? “Vai chover?” deixou de ser umas pergunta casual.

Pode ser a última antes que o seu carro ou sua casa sejam arrastados por uma inesperada enchente.