Por Luciano Siqueira Foi em 1954, no bairro da Lagoa Seca, em Natal, a minha primeira Copa do Mundo.
Quase nada entendia de futebol.
Mas aquela movimentação toda despertou no garoto de apenas oito anos sentimentos nunca antes experimentados.
O som alto, num dos postes perto de minha casa (creio que o mesmo som que anunciava os filmes a serem exibidos no Cine São João), as bandeirinhas verde-amarelas ornamentando a rua.
Antes de iniciada a partida, transmitida “pelas potentes ondas do rádio” desde a Suíça, se repetia à exaustão “Esse jogo não é um a um/Se meu clube perder é zum, zum, zum”, na voz de Jackson do Pandeiro.
Não retive na memória nada dessas transmissões.
Guardei, sim, as imagens do entusiasmo geral, a gritaria a cada um dos cinco gols marcados na estréia contra o México.
Do empate com a Iugoslávia não ficou lembrança.
Mas da derrota para a Hungria, o melhor time daquela Copa, pelo elástico placar de 4 x 2, sim.
As pessoas chamavam o juiz de ladrão, naturalmente influenciadas pelo que dizia o narrador.
Posteriormente, em jornais e revistas colecionadas por meu irmão mais velho, lembro de fotos do lateral esquerdo Nilton Santos contido por seus companheiros, inconformado com a arbitragem.
Se tinha razão ou não, confesso que nunca me interessou pesquisar.
O fato é que daí em diante o futebol entrou em minha vida.
O gosto pelo “barra a barra” com bola de meia.
A pelada improvisada na rua.
A simpatia pelo Vitória, um dos times do bairro.
E a paixão pelo América, principal adversário do ABC em inesquecíveis pelejas no velho Estádio Juvenal Lamartine.
A rivalidade entre América e ABC tinha seus reflexos dentro de casa, pondo em pólos opostos a avó Neném e os netos.
Vovó rezava em voz alta para que o ABC saísse vitorioso, o que considerávamos uma provocação. Íamos à forra sempre o placar nos favorecia, como num memorável cinco a zero.
Segue a vida, há tanto em que pensar e o que fazer que o espaço da emoção com o futebol foi gradativamente diminuindo.
Hoje o América Futebol Clube converteu-se em longínqua recordação, o Clube Náutico Capibaribe que adotei ao me transferir para o Recife já não me tem como torcedor atento e mesmo o heróico escrete canarinho – reconheço a fragilidade do meu patriotismo futebolístico – só me envolve no curto tempo dos noventa minutos regulamentares de cada partida.
Selado o resultado, de pronto cuido de outra coisa, que a vida é curta, o sonho é imenso e tenho mais o que fazer.
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