Foto e Texto Chico Ludermir Depois de 100 dias de polêmicas e uma semana de mobilização da prefeitura, João da Costa anunciou hoje o futuro da área da Tamarineira.

Na abertura da Semana do Meio Ambiente, no Parque da Jaqueira, a decisão foi a de criar um parque.

Para tanto, a área será desapropriada para virar utilidade pública.

A escolha foi aplaudidíssima pelos que estavam presentes. “Se a gente tem compromisso com a vida, com a sustentabilidade e com amenização climática da cidade, a opção da prefeitura não podia ser outra do que preservar aquele espaço de conservação ambiental, espaço de uso público”, disse João da Costa, que assinou o docuemnto que decreta área de utilidade pública.

O prefeito destacou que a decisão levou em consideração a pesquisa feita no site da prefeitura que constatou maioria a favor da manutenção das unidades de saúde, coexistindo com um parque público.

A mobilização popular foi outro fator importante para a tomada de decisão. “Um governo que se pretende democrático e popular tem que ouvir o que a maioria da sociedade está procurando expressar”, afirmou.

Da Costa disse ter linvestigado o movimento urbanístico. “O que nós percebemos nestes 50 anos é o profundo avanço no processo de urbanização que tem piorado a qualidade de vida do cidadão do Recife.” também através de decreto, foi criado um grupo de trabalho para realizar o processo de implantação do equipamento, coordenado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

O grupo vai conduzir os desdobramentos da decisão, como abrir discussões com entidades médicas e a sociedade para conciliar diferentes usos do espaço.

Leia mais Através de nota, a Santa Casa lamenta desapropriação da Tamarineira O prefeito tem direito de fazer a desapropriação, diz Dom fernando Saburido Com a permanência das unidades de saúde na Tamarineira, diretora do HUP se diz muito feliz A luta agora é pela abertura do espaço, diz a Amigos da Tamarineira Realesis diz que só vai se pronunciar quando for informada oficialmente Tamarineira não será mais shopping center Entenda o caso No dia 22 de fevereiro, a Santa Casa de Misericórdia convocou coletiva de imprensa para divulgar a intenção de transformar a área onde hoje funciona o Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano, o Hospital Infanil Helena Moura e o Centro de Prevenção, Tratamento e Reabilitação de Alcoolismo em um centro comercial.

O empreendimento com 170 lojas sustentaria, no local, dois museus e um parque ambiental temático.

O contrato entre a Santa Casa e a empresa Realesis, do grupo BVA, também responsável pelo shopping Paço Alfândega, foi de arrendamento durante 50 ano.

Segundo a irmandade lhe foram adiantados R$ 1 milhão.

Por mês, a empresa pagaria um aluguel de, no mínimo, R$ 130 mil, que poderia chegar a R$ 180 mil.

O Projeto Tamarineira, como foi chamado, previa além de shopping, um parque ambiental temático e dois museus com exposição permanente.

Na proposta arquitetônica um museu é o do Inconsciente, uma homenagem ao médico que dá nome ao hospital,Ulysses Pernambucano, e conteria material sobre psiquiatria e história do local.

O outro, abordaria o tema da sustentabilidade.

Setenta por cento do terreno era destinado à preservação do verde.

A empresa, estimou inicialmente investimentos em cerca de R$ 300 milhões , 4 mil operários trabalhando e 3 mil empregos diretos quando em funcionamento.

A inauguração estava prevista para a Copa do Mundo de 2014, quando Recife será subsede do evento.

Repercussão Logo no primeiro momento, diversas entidades se manifestaram em defesa do local, contrárias ao shopping.

Questões relacionadas à saúde, meio ambiente e planejamento urbano foram lançadas e discutidas na Câmara Municipal e na Assembleia.

O ex-governador Mendonça Filho enacabeçou uma ação popular contra o projeto que resultou no veto da Justiça, em caráter liminar, de qualquer construção na Tamarineira.

O veto foi derrubado posteriormente.

Dentre os argumentos desfavoráveis ao negócio, esteve presente ao logo de todo o percurso, o questionamento sobre a propriedade do terreno por parte da Santa Casa.

A historiadora e militante do grupo Amigos da Tamarineira, Virgínia Pernambucano de Melo, afirmou que “o Cartório de Registro de Imóveis do Primeiro Ofício em Pernambuco não conhece a Santa Casa de Misericórdia como proprietária do antigo Sítio da Tamarineira”.

A Santa Casa respondeu e disse que sobre a dúvida da propriedade do terreno já tem dois processos no Segundo Cartório de Registro de Imóvel que comprovariam a propriedade.

Logo em seguida ao anúncio convocou reuniões com vereadores, deputados e senadores.

No sábado (13/03) pacientes, familiares e funcionários da unidade de saúde se uniram a diversas entidades, a políticos e moradores do bairro para criticar o arrendamento da área.

A ação foi encabeçada pela associação Amigos da Tamarineira Pré-decisão Durante toda esta semana o prefeito do Recife esteve mobilizado para discutir o tema antes de anunciar sua decisão.

Realizou no site da Prefeitura enquete sobre o assunto que teve como opção mais votada a manutenção das unidade de saúde com parque público.

João da Costa se reuniu com a Associação Amigos da Tamarineira, com o Conselho Municipal de Meio ambiente e o Estadual de Cultura, com a Santa Casa de Misericórdia, e com a Realesis.

Na última quarta-feira (2), o prefeito escutou o Conselho Regional de Medicina (Cremepe) e outras entidades médicas e, na quinta (3), depois de visitar o local, se reuniu com dez secretários para tomar sua decisão.

Hoje, depois de 100 dias de polêmica, o prefeito deu seu veredicto.

A Santa Casa De acordo com levantamento de agosto de 2009, a Santa Casa possui 237 imóveis para locação, 2.777 terrenos e pelo menos nove prédios.

Contudo, a irmandade alega que, apesar da renda gerada pelo patrimônio, o dinheiro que entra mensalmente se reverte para obras assistenciais, dificultando o pagamento dos tributos.

No ano passado, acumulando débito de cerca de R$ 1 milhão em IPTU e taxa de limpeza pública, a Santa Casa de Misericórdia chegou a recorrer à Prefeitura do Recife para tentar negociar o pagamento.

A dívida era uma das maiores preocupações do então recém-empossado arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.

Segundo o próprio arcebispo, o contrato foi assinado na gestão do seu antecessor, D.José Cardoso Sobrinho.

Depois do início da polêmica, dom Fernando não falou mais sobre o caso.