Por Marco Mondaini* O que pode haver em comum entre uma costureira de Casa Amarela que prepara vestidos para serem vendidos em boutiques de luxo de Boa Viagem e um imigrante chinês ilegal empregado numa das inúmeras fábricas de tecelagem instaladas na cidade italiana de Prato, as quais escoam a sua produção nas lojas de grife da vizinha Florença?
Ambos sofrem com o aumento dos níveis de exploração do trabalho levados a cabo de maneira global desde o último quarto do século XX.
Dito de outro modo, tanto para a trabalhadora pernambucana como para o trabalhador chinês, o fenômeno contemporâneo da globalização representa um retorno aos inícios da Revolução Industrial, na Inglaterra do final do século XVIII.
Apesar da distância espacial e cultural que os separam, os dois trabalhadores vivem a terrível situação de ter de trabalhar até os limites da sua capacidade física para conseguirem sobreviver materialmente – isso, numa condição marcada pela ausência de direitos trabalhistas e previdenciários, isto é, desprotegidos socialmente pelo Estado.
Que fique claro: esse tipo de trabalho precário, cada vez mais freqüente no mundo, consiste no efeito mais imediato das ações governamentais voltadas à desregulamentação das relações de trabalho, uma prática legitimada pelo discurso de que, para enfrentar as altas taxas de desemprego, não resta outro caminho senão a flexibilização das regras trabalhistas existentes.
Porém, desregulamentado o capitalismo contemporâneo, o desemprego parece não dar sinais de diminuição.
Pelo contrário, este persiste tendo ao seu lado a companhia do crescimento do fosso da desigualdade social, uma conseqüência direta do poder irrefreável dos mercados globalizados diante da crise das funções sociais do Estado.
Frente a esse quadro, talvez não seja fora do tom afirmar que, enquanto as costureiras de Casa Amarela e os imigrantes chineses ilegais na Itália viverem situações idênticas de exploração do trabalho, o fenômeno da globalização persistirá tendo a face horripilante do aprofundamento da desigualdade social no mundo. *Marco Mondaini é Professor da UFPE e articulista do blog nas segundas-feiras