Por Edilson Silva – www.twitter.com/EdilsonPSOL O governo federal e o governo de Pernambuco estão nos últimos dias numa ofensiva midiática divulgando planos de repressão ao tráfico do crak e de assistência às vítimas desta verdadeira epidemia que cobre os quatro cantos de nosso país.
O simples fato da admissão por parte dos governos de que esta questão precisa ser focada e trabalhada de forma específica já é um avanço diante do quadro imediatamente anterior, de completo abandono e absoluta falta de qualquer iniciativa ou política de enfrentamento ao problema.
Então, se saímos do zero absoluto, estamos diante de um fato já em si progressivo.
Contudo, o conjunto dos fatos que circundam este problema nos faz desconfiar das intenções destes governos.
Querem enfrentar mesmo o problema, construindo dinâmicas que combatam de fato a epidemia do crak, ou querem apenas pendurar em seu varal de supostas realizações mais um panfleto para os debates eleitorais que se avizinham?
As inserções nacionais de rádio e TV do PT há poucas semanas, com Dilma Roussef falando em derrotar o crak, insere-se neste contexto.
Em ano de eleição, na visão dos que tratam política eleitoral como comércio de votos, é preciso dizer o que o povo quer ouvir, nem que para isso seja preciso mentir.
Logo em seguida às inserções do PT, o governo federal lança um programa a respeito do crak e o nosso governo de Pernambuco vai de carona.
Mas será que esses governos só perceberam agora o que o conjunto da população brasileira já estava exausta de saber, que o crak virou uma epidemia, e que só pode ser enfrentada como tal, como foi e é tratado o problema da AIDS, por exemplo?
O fato do Brasil e Pernambuco terem se transformado numa grande crakolândia não é fruto do acaso. É fruto da ausência do poder público em todos esses anos, que não diagnosticou este grave problema de nossa sociedade e não apresentou políticas alternativas. É fruto da falta de participação verdadeira da sociedade no processo de planejamento das ações do Estado. É fruto da arrogância e do patrimonialismo de quem acha que tudo sabe, que tudo pode, e lança a sorte dos rumos da sociedade em petit comité, com seus burocratas no frio confortável de seus gabinetes, sob a presidência de interesses nada republicanos.
Sob todos os ângulos que possamos imaginar, os governos em questão são no mínimo co-responsáveis pela tragédia que representa o crak.
Se não diagnosticaram antes, são insensíveis e incompetentes, e governam completamente apartados da dor sentida por parte significativa da sociedade.
Se diagnosticaram e não fizeram nada anteriormente, são muito mais que co-responsáveis por esta epidemia, e a falta de políticas públicas de enfrentamento até agora torna-se, na prática, uma política pública de uma classe, de tolerância com o extermínio de parte de nossa juventude mais pobre.
Espero, sinceramente, que esta epidemia do crak seja compreendida pelos programas de enfrentamento que estão divulgando como muito maisque um p roblema de polícia, de repressão e de saúde pública urgente.
Que esta epidemia seja compreendida e tratada também como um grito desesperado de socorro de nossas juventudes, sobretudo aquelas próximas da linha que separa a pobreza da miséria, que buscam e se submetem à experimentação de estados de alteração de consciência a partir de um veneno que leva à morte social e ao crime quase que instantaneamente; um grito distorcido de quem não quer ser tratado como um bicho invisível que recebe (quando recebe) do governo uma dieta de baixíssima caloria suficiente apenas para não morrer de fome.
Vale a pena nesta hora refletir sobre a poesia dos Titãs, que souberam interpretar, num momento mágico, o sentimento de uma geração: “Bebida é água, comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer.
A gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade.
A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade.” A gente quer e precisa de socialismo e liberdade, por que a felicidade é um direito do ser humano. *Presidente estadual do PSOL e pré-candidato ao governo de Pernambuco PS: O Blog publicou um outro artigo anteriormente que chegou ao e-mail dguedes@jc.com.br como sendo do presidente do partido.
Como ele telefonou para a redação informando que o artigo que ele enviara não era o mesmo que estava publicado, trocamos o texto e estamos investigando o que houve.