Por Angelo Castelo Branco* Descontadas as elevadas taxas de hipocrisia explícitas nos debates políticos e eleitorais do país, não parece tão complicado a um eleitor, minimamente informado, estabelecer distinções entre um candidato bom e um candidato podre.
A liberdade de imprensa praticada atualmente no Brasil já supre basicamente todas as necessidades da sociedade em sua permanente e saudável busca de critérios que devem pautar as escolhas no dia do voto.
O projeto de fichas limpas e de fichas sujas nada mais nos parece do que uma mera formalidade cartorial muito ao gosto das renitentes manias luminosas de se pretender alterar a realidade através de canetadas.
Dificilmente se verá uma reforma política consistente e imediata porque tal processo exigiria dos atuais congressistas algumas medidas que fatalmente iriam se chocar com os interesses deles.
As transformações virão na medida do amadurecimento gradual da sociedade como um todo, a partir de dados consistentes sobre a rejeição dos podres a cada ano eleitoral.
Inicialmente, só quem jamais se deu ao trabalho de examinar com um pouco mais de atenção as brutais diferenças entre a teoria e as práticas eleitorais, poderia supor que alguém seria capaz de se eleger sem ter que garimpar recursos para alicerçar sua campanha.
Não há registros na literatura política brasileira de alguém eleito que tenha realizado esse feito.
Amealhar dinheiro para segurar uma campanha eleitoral foi, é e continuará sendo um fator de estratégica importância dentro de qualquer projeto político que se pretenda viabilizar.
Portanto a questão dos financiamentos de uma campanha não pode ser vista como algo estarrecedor, sob pena de se construir uma visão equivocada ou fantasiosa do nosso modelo democrático.
Qual é a mágica que, de repente, torna um candidato popularíssimo num recanto geográfico onde ele jamais pôs os pés até então?
Uma campanha eleitoral exige muitos recursos notadamente sob seus aspectos de logística.
Os aspirantes à presidência da República, por exemplo, não podem depender de horários de vôos comerciais.
Eles têm que voar de jatinhos porque suas agendas são pesadas e exaustivas.
Não terão chances se não contarem com estruturas logísticas desse porte.
Pagas por quem?
Por outro lado, para que alguém forme um juízo de valor em torno de nomes que andam circulando por aí, basta ler com freqüência os jornais e os sites.
Desde aspirantes e deputados estaduais, federais e senadores, dificilmente alguém que tenha algo de podre escapará da vigilância maior da nação, representada pela liberdade de Imprensa.
Há envolvidos em histórias escabrosas que serão provavelmente inviabilizados pelo juízo do povo, não importando se do ponto-de-vista formal eles tenham se valido de brechas de leis ou de decretos e portarias que pretendam livrá-los burocraticamente.
Há os que defendem a causa pública e os interesses nacionais e há os que jamais o fizeram porque são apenas despachantes de luxo de grandes conglomerados corporativos ou de seus próprios interesses.
Uma questão de opção.
Que o povo os julgue. É evidente que o repúdio coletivo aos candidatos inadequados não ocorrerá de uma só vez e numa única eleição.
Somos uma democracia muito jovem se comparada com a das nações mais idosas e temos um caminho a percorrer.
Mas temos uma vantagem rigorosamente inerente à nossa conquistada liberdade de expressão e de informação públicas, que é a velocidade com que as mídias atuais levam o conhecimento a um maior número de pessoas, num espaço de tempo cada vez mais exíguo.
Esse fenômeno, consagrado pela rede social ou Internet, pode parecer um precioso instrumento no sentido de agregar valores capazes de amadurecer uma sociedade oferecendo-lhe o mais cobiçado produto do poder político contemporâneo que é a informação. É muito mais eficaz do que qualquer definição formal sobre fichas limpas e fichas sujas. *Angelo Castelo Branco é jornalista Acompanhe ao vivo a sabatina aos presidenciáveis