Sérgio Montenegro Filho, do Jornal do Commercio O ano de 1989 ficou marcado pela primeira eleição direta à Presidência da República após a ditadura militar (1964-85).
E graças à restituição plena das liberdades civis – que incluía a permissão para criar novos partidos – aquela disputa entraria para a história como a mais concorrida de todos os tempos, com 22 candidatos na briga pelo Palácio do Planalto.
Os pleitos seguintes, num ambiente político mais estável, já não trariam mais um exagero de candidaturas.
Em 2010, porém, o prazo para registro de candidatos ainda nem terminou – vai até 5 de julho – e a lista de postulantes já é a segunda maior das últimas décadas.
Até agora, 13 pré-candidatos se alinham no rastro da sucessão do presidente Lula.
Alguns nomes são velhos conhecidos do eleitor.
Outros, no entanto, estão debutando cenário político nacional.
Não se pode dizer que apenas os partidos pequenos terão estreantes nas urnas.
A pré-candidata do PT, a ex-ministra Dilma Rousseff, por exemplo, jamais disputou uma eleição.
Mas é mesmo das siglas menores que surgem os nomes – e propostas – mais estranhos e polêmicos.
O pré-candidato do PTdoB, Mário Oliveira, por exemplo, é a favor da pena de morte, da redução dos direitos trabalhistas e da extinção das cotas para negros e índios.
E é só o começo.
Defensor do regime militar, Oliveira também é contra o ensino superior público gratuito e prega o fim do programa Bolsa Família e de movimentos como o dos sem-terra.
No lado oposto do palanque, o esquerdista Rui Pimenta (PCO) quem implantar a “ditadura do proletariado e o “poder popular”, enquanto o veterano e ultraesquerdista José Maria Almeida (PSTU) – aquele do slogan “contra burguês, vote 16” – promete fazer um governo aliado aos sindicatos e liderar uma revolução socialista “para democratizar a democracia”.
Pimenta e Almeida vão enfrentar a ira liberal dos novatos Ciro Moura (PTC) – que se autodefine como o candidato “antiesquerda” – e Américo de Souza (PSL), defensor da “privatização geral”.
Souza é aquele candidato disposto a extinguir todos os impostos e criar, no lugar, um único “dízimo cívico”, que desviaria para os cofres públicos 10% de cada salário pago no País.
Redução de tributos também é bandeira do estreante Oscar Silva (PHS), que pretende acabar com o Imposto de Renda e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Em meio à guerra entre esquerdistas e conservadores, dois veteranos das urnas presidenciais planejam reciclar suas propostas de eleições anteriores.
Levy Fidelis (PRTB) insistirá na construção de aerotrens nas principais metrópoles do País, como solução para desengarrafar o trânsito.
E José Maria Eymael (PSDC) – “o democrata cristão” – reforçará a campanha pela “difusão da felicidade” entre os brasileiros.
De que forma os candidatos dos partidos pequenos poderiam realmente interferir no resultado da eleição?
Na pesquisa Datafolha divulgada no final de abril passado, o único entre eles a pontuar foi Mário Oliveira, com 1%.
Os outros ficaram abaixo desse percentual.
Mas na disputa de 1998, por exemplo, a soma dos percentuais dos pequenos totalizou 4% dos votos válidos e por pouco não leva a eleição para o segundo turno.
Uma outra função conhecida das candidaturas menores é a atuação como “laranjas” de candidatos favoritos.
Não é novidade quando pequenos competidores terminam funcionando como linha auxiliar dos grandes palanques.
Fechado o “acordo”, eles passam a dedicar toda a sua participação na campanha, inclusive o pouco tempo que dispõem nos programas do guia eleitoral de televisão e rádio, a atacar o principal concorrente do novo aliado.