Daniel Bramatti - O Estado de S.Paulo O tucano José Serra é o presidenciável preferido de um terço dos beneficiários de programas sociais do governo - grupo comumente apontado como eleitorado cativo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua candidata, Dilma Rousseff (PT).

Segundo a última pesquisa CNT/Sensus, dos entrevistados que dizem participar de programas como o Bolsa-Família e o Primeiro Emprego, 46% pretendem votar em Dilma e 33%, em Serra.

O fato de não haver alinhamento automático entre esse eleitorado - que chega a 17% do total - e a candidata oficial enseja duas leituras: ou Dilma tem potencial para crescer, ou está dando certo a estratégia de Serra de prometer “manter e aprofundar” o Bolsa-Família. “Os atendidos por programas sociais formam um eleitorado cativo do presidente Lula, mas não necessariamente da candidata do PT”, disse o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB). “A questão é quanto desses votos Lula conseguirá transferir.

E isso ninguém sabe.” O cientista político Amaury de Souza, da empresa MCM Consultores, também identifica o grupo atendido por programas sociais como lulista, mas não necessariamente petista. “Há uma diferença abismal entre voto em Lula e voto no PT.” Para Souza, os números mostram que Serra acerta “ao se recusar a desempenhar o papel de opositor”, fugindo do roteiro do “nós contra eles” preconizado pelo presidente.

Como parte da estratégia de dar caráter plebiscitário às eleições e de transferir votos à sua candidata, Lula tem associado Dilma a programas que alimentam a popularidade do governo.

Entre o eleitorado que aprova o desempenho do presidente, 43% se inclinam a votar pela petista, e 35% optam pelo tucano.

Segundo o Sensus, 84% aprovam Lula.

Dilma não esgotou seu potencial de crescimento em outro possível “filão”: o grupo que diz que o candidato indicado pelo presidente é o único em que votará.

Nesse segmento, que abrange pouco mais de um quarto do eleitorado, a petista tem o voto de 71%.

Por provável desinformação, porém, Serra é apontado como opção por 19%, e Marina Silva (PV), por 4%.

Confusão.

Ricardo Guedes, diretor do instituto Sensus, afirma que é comum encontrar aparentes paradoxos nas escolhas dos eleitores. “Há sempre um grau de confusão e de incongruência.

Mas também é verdade que uma parcela da população não descobriu que Dilma é candidata.” Uma mostra de que o eleitorado tem dificuldade de diferenciar os dois candidatos aparece em outro dado da pesquisa: 42% dos simpatizantes de Dilma admitem que poderiam votar em Serra, e 44% dos potenciais eleitores do tucano dizem que poderiam optar pela petista. “O certo é que esta não é uma eleição definida”, diz Ricardo Guedes. “Há tendência de continuidade, mas isso não significa que o caminho da candidata governista será fácil.” Ele chama atenção para o fato de que 30% afirmam que os debates entre os candidatos serão importantes na definição do voto.

O Sensus ouviu 2.000 pessoas entre 10 e 14 de maio.