Na condição de repórter de Economia do JC, por mais de uma década e meia, tive a oportunidade de cobrir vários temas nacionais, como a reforma da previdência no governo FHC.

Deste tempo, lembro com pesar do quanto o partido de Lula agrediu o governo FHC, dizendo sempre que era contra os velhinhos, por sugerir e aprovar o fator previdenciário.

Uma médida técnica, necessária, para dar um mínimo de sustentação ao rombo previdenciário, que acabou virando mote para exploração eleitoreira.

Hoje, às vezes, muitas vezes, dá vontade de rir, ao assistir a falta de coerência de Lula, neste momento, tendo que defender as reformas do antecessor, que ele tanto odeia.

Dá uma tristeza danada ver o tempo e energia que se perdeu então.

O Brasil já poderia ter avançado mais não fosse essa gente trabalhando contra as reformas que interessam ao Brasil.

Tava pensando nisto tudo e comentando com Daniel Guedes como o tempo é o senhor da razão, quando esbarrei com esse texto de Reinaldo Azevedo.

Vale a pena ler.

LULA, O HOMEM QUE RELEU MAX WEBER Por Reinaldo Azevedo, em seu blog Lula é mesmo capaz de dizer frases memoráveis.

Uma delas é esta: “Como presidente a gente tem que agir com responsabilidade”.

Nem diga!

Nos primeiros dias de governo, confrontado com o fato de que utilizava a régua e o compasso herdados de FHC, ele lançou o que costumo chamar de Teoria Geral da Bravata.

Segundo afirmou em 2003, “quando a gente está na oposição, faz muita bravata”.

O sentido é o mesmo da sentença de hoje, só que expresso pelo avesso.

Sei lá… Acho que a gente tem de ser responsável até quando toma um Chicabom.

Ou não existirá uma responsabilidade específica, que concerne também à oposição?

Não para o PT!

O companheiro foi um dos maiores críticos do fator previdenciário, que agora parece defender porque homem responsável!

Sua frase é reveladora e tem sentido histórico.

O PT se construiu sabotando todas as tentativas dos outros governos, sem distinguir as boas das más, de melhorar o país.

Pegue-se o caso, talvez o mais escandaloso, da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Em síntese, ela diz o quê? “Está proibido gastar mais do que se arrecada”.

Os petistas recorreram ao Supremo contra lei, tomada por eles próprios como “inegociável” a partir de 2003.

O fator previdenciário não foi instituído porque o governo de então “não gostava dos aposentados”.

Era para tornar o sistema viável — vale dizer: não era por gosto, mas por necessidade.

Tratava-se justamente de uma imperativo da responsabilidade.

Os bravateiros não quiseram nem saber.

A Teoria da Bravata é uma releitura de Max Weber à luz do “companheirismo”: quem está no poder se orienta pela Ética da Responsabilidade; quem está fora, pela Ética da Oportunidade. É incrível que esse troço tenha prosperado.

Mas prosperou.

E seduz outros tantos para os quais a convicção é só um momento de falência do oportunismo.

Que bode!