Foto: Presidência da República Na Veja Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemora a assinatura do acordo nuclear entre Irã e Turquia como uma “vitória da diplomacia”, outros países e a imprensa internacional enxergam o pacto com descrédito.
O ceticismo cresceu após a declaração de um porta-voz do ministro iraniano das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast.
Ele disse a uma agência de notícias do país, pouco depois do anúncio do acordo, que o Irã não vai parar de enriquecer seu próprio urânio.
Um porta-voz da chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, afirmou que o acordo “não responde a todas as inquietações” da comunidade internacional. “O anúncio feito nesta segunda-feira pode constituir um passo na direção correta, caso sejam confirmados os detalhes do acordo, mas isto não responde a todas as inquietações sobre o programa nuclear de Teerã”, declarou.
O governo de Israel foi o primeiro a se manifestar a respeito do acordo.
Para os israelenses, Teerã “manipulou” a Turquia e o Brasil ao “simular aceitar” uma proposta de troca de urânio em território turco. “Os iranianos já fizeram o mesmo no passado, simulando aceitar tal procedimento para reduzir a tensão e os riscos de novas sanções internacionais, mas depois se negaram a passar aos atos”, declarou um representante do governo de Israel à agência de notícias France-Presse.
Para o governo da Alemanha, nada pode substituir um acordo entre Teerã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). “Isto não pode ser substituído por um acordo com outros países”, disse o porta-voz adjunto do governo da Alemanha, Christoph Steegmans.
Apesar de reconhecer o progresso trazido pela negociação, o ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, afirmou que a AIEA é quem deve se posicionar sobre o acordo. “Saudamos o acordo e a tenacidade com a qual nossos amigos turcos e brasileiros realizaram as conversações.
Mas não somos nós que devemos responder”, declarou Kouchner à AFP.
Imprensa internacional - Em sua cobertura sobre o assunto, a rede CNN deu destaque à fala do porta-voz iraniano Mehmanparast, de que o Irã vai continuar a enriquecer urânio a 20%, mesmo após o acordo.
Esta seria apenas uma resposta às preocupações da comunidade internacional de que o Irã estivesse tentando, secretamente, produzir armas nucleares.
Um correspondente da rede BBC destacou que o acordo não deixa claro se o urânio enriquecido será usado pelo Irã para produzir combustível novo ou apenas guardado como um estoque de segurança.
O repórter afirma que o ocidente deve temer que a negociação seja apenas uma forma de adiar novas sanções, já que o Irã não costuma cumprir os acordos que estabelece. “O novo pacto será examinado detalhadamente e com alto grau de ceticismo no exterior”, disse o correspondente.
Em uma matéria do jornal britânico The Guardian - em que o nome do Brasil é citado como um coadjuvante dispensável e apenas uma vez -, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que novas sanções contra o Irã não são mais necessárias.
Autoridades britânicas, porém, acreditam que os iranianos ainda precisam fazer mais para provar que suas ambições nucleares não são ameaçadoras. “O Irã tem a obrigação de provar à comunidade internacional que suas intenções são pacíficas”, disse o porta-voz Alistair Burt. “A AIEA não consegue verificar se o programa iraniano é pacífico.
Por isso, estamos trabalhando em novas sanções com nossos parceiros do Conselho de Segurança.
Até que o Irã tome ações concretas para cumprir com suas obrigações, o trabalho deve continuar”, disse.
Otimismo brasileiro - Nesta segunda, Lula dedicou parte do programa de rádio Café com o Presidente, gravado de Teerã, logo após o fechamento do acordo, para falar sobre o assunto. “Foi uma resposta de que é possível, com diálogo, a gente construir a paz, construir o desenvolvimento”, comemorou.
O presidente lembrou que o Brasil sempre acreditou na possibilidade de acordo. “Mas o importante é que nós estabelecemos uma relação de confiança.
E não é possível fazer política sem ter uma relação de confiança.” A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, declarou que o pacto entre Irã, Turquia e Brasil foi “um gol no Oriente Médio”.
Para ela, o presidente Lula “demonstra que sempre está disposto a dialogar”.
O governo brasileiro defende que o acordo criará confiança na comunidade internacional e impedirá que o Irã seja submetido a novas sanções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, como querem os Estados Unidos.
O texto do novo acordo foi montado em cima da proposta debatida em outubro na AIEA.
O pacto prevê o envio, por parte do Irã, à Turquia de 1.200 quilos de seu urânio levemente enriquecido (a 3,5%), para uma troca, em um prazo máximo de um ano, por 120 quilos de combustível altamente enriquecido (20%), necessário para o reator experimental de Teerã, anunciou Mehmanparast.
O pacto ainda precisa ser aprovado pela AIEA. (Com agência France-Presse)