Por Marco Mondaini* Como já era esperado, a lista dos 23 jogadores convocados por Dunga para irem à Copa do Mundo da África do Sul representando o Brasil não apresentou grandes novidades – para descontento geral.
Inesperadas mesmo foram algumas palavras pronunciadas por Dunga durante a entrevista coletiva que seguiu a divulgação da lista dos 23 jogadores da seleção brasileira.
Foi então que o técnico da seleção canarinho, num momento de rara inspiração, afirmou que não poderia saber se a ditadura militar, a escravidão ou o apartheid sul-africano foram bons ou ruins porque não havia vivido em tais períodos, sendo uma prerrogativa exclusiva dos que neles viveram o direito de criticá-los, ou não.
Assim, mais frustrante que a não convocação de Neymar, Ganso, Adriano ou Ronaldinho Gaúcho, foi a original forma de se olhar para o passado apresentada por Dunga: uma visão que ignora o papel do saber histórico como meio de acesso aos acontecimentos e processos não vividos pessoalmente – e também os vividos, diga-se de passagem.
Sendo correta a argumentação do “professor” (assim o chamam os comandados de Dunga na seleção), as novas gerações jamais poderão construir um juízo ético sobre uma realidade histórica passada.
O totalitarismo nazista e comunista, por exemplo, serão absolvidos de todos os crimes praticados contra a humanidade à medida que seus sobreviventes falecerem.
Dito isso, peço licença ao “professor” Dunga para dizer às novas gerações que não viveram a ditadura militar, a escravidão e o apartheid que todos os três representaram experiências históricas abomináveis.
Cada um ao seu modo violou barbaramente os três princípios que fundamentam o significado contemporâneo de democracia, isto é, a liberdade, a igualdade e a diversidade. Às vésperas da Copa do Mundo, quando, mais do que nunca, o técnico da seleção brasileira torna-se uma figura pública de extrema visibilidade, Dunga daria uma grande contribuição à causa da democracia tratando apenas de temas futebolísticos nas suas entrevistas coletivas – o que, por si só, já é suficiente para gerar muitas polêmicas. *Marco Mondaini é Professor da UFPE, no departamento de serviço social e, a partir de hoje, colaborador do Blog às segundas-feiras