Por Fernando Castilho, especial para o blog Foi assim.
Eleito pela terceira vez governador de Pernambuco, Miguel Arraes pôs na cabeça a ideia de eletrificar todo o estado.
A Celpe já estava na lista para ser vendida e ele achava que se vendesse a companhia como estava sendo pressionado pelo Governo FHC poderia, ao menos, deixar o legado de ter eletrificado seu Estado.
Arraes tinha umas coisas curiosas.
Ele entrou numa briga dos diabos com o pessoal do governo e da Celpe por que achava que deveria ser feita a eletrificação monofásica. É aquela do fio único que faz o aterramento no chão.
E os técnicos da Celpe achavam que já que iriam levar o poste, tinham que levar logo tudo.
Arraes achava que só devia ter o segundo fio se houvesse necessidade.
Pois bem.
Foi no meio dessa discussão que chegou Paulo Cezar Coelho Tavares.
Que vinha da Cosern (RN), depois de ter sido secretário-executivo do Programa Nacional de Conservação de Energia (Procel) na Eletrobrás e ocupou a presidência da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), entre 1998 e 2000.
Foi ele quem conduziu o processo de privatização da concessionária.
Apresentado a ideia, PC entendeu o sentido da coisa e revelou a Arraes que poderia ampliar isso se o governo autorizasse o uso da chamada Reserva Geral de Reversão (RGR) que era um dinheiro para fazer isso mesmo mas, que dormia na conta da Eletrobrás.
Enquanto a verba da RGR não vinha, PC começou a fazer eletrificação com todo o dinheiro que podia.
Deu tão certo, que Arraes começou a acreditar que antes do final do Governo e na disputa com Jarbas Vasconcelos, poderia eletrificar mais de 90% do Estado.
Essa crença, aliás, foi a origem de uma das suas maiores frustrações políticas, pois ele chegou a pedir ao BNDES para lhe adiantar R$ 120 milhões e o ministro Mendonça de Barros o “cozinhou” até o final do governo sem liberar nada.
Arraes perdeu a eleição, mas, o sucesso da iniciativa já tinha virado tema de debate e o Governo FHC criou um programa “Luz Para Todos ”, nacional, que andou bem na Bahia mas, ficou prejudicado, pois a verba da RGR demorava.
A falta do comprometimento da RGR, principal fonte de financiamento do Programa “Luz no Campo” no governo FHC até o fim de 2002 como pagamento dos subsídios às tarifas de baixa para a eletrificação rural, acabou não resolvendo o problema de financiamento do programa de uma forma definitiva.
E foi aí que entrou Lula.
No Governo FHC foram empregados recursos da Reserva Global de Reversão, mas, faltava uma alteração na legislação.
O “Luz no Campo” não poderia continuar desenvolvendo suas atuais ações.
O “Luz no Campo” de FHC virou “Luz para Todos” e o resto todo mundo sabe.
A diferença é que Lula pôs dinheiro da União e do BNDES para garantir o dinheiro necessário.
Então, essa conversa de que foi Dilma, Lula, FHC ou o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, João Almeida (BA), sobre quem trouxe o programa, individualmente não é bem assim.
Todo mundo ajudou.
A Coelba, por exemplo, ganhou um prêmio pelo desempenho do seu programa.
Na privatização da Celpe, foi incluída uma cláusula que obrigava a compradora a usar uma parcela de sua receita para eletrificação.
Mas por uma questão de registro histórico é bom se dizer que quem “inventou” essa história de universalização de energia elétrica foi Miguel Arraes.
Até porque, em 1998 já éramos o Estado com maior volume de eletrificação urbana.
E isso é tão verdade que fomos o primeiro Estado do Brasil a ser 100% eletrificado.
Claro, todo mundo ajudou, mas, essa proposta começou lá em 1998 e com a decisão de Miguel Arraes e capacidade de articulação de Paulo Cezar Tavares que foi quem levou a ideia de usar a RGR para transformar a proposta testada em Pernambuco para virar um projeto nacional.
Fernando Castilho, assina a Coluna JC Negócios.