Malu Delgado - O Estado de S.Paulo No programa partidário que foi ao ar ontem em cadeia nacional de rádio e televisão, o PT partiu para uma estratégia em que tenta transformar a sucessão presidencial num combate entre duplas: de um lado, “Lula e Dilma”; do outro, “FHC e Serra”.
Do início ao fim, o programa partidário foi concebido como uma peça de campanha, ainda que a propaganda eleitoral na televisão só seja autorizada a partir de 17 de agosto e que o PT já tenha sido contestado na Justiça Eleitoral por antecipar a campanha em um espaço que deveria ser dedicado à divulgação da legenda, e não da pré-candidata.
O uso irregular do programa partidário anterior, de dezembro, provocou a condenação do PT ontem à noite, mas não a tempo de impedir que o partido voltasse a promover um palanque para Dilma na TV (leia texto nesta página).
No programa de ontem, a ex-ministra foi apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como uma espécie de heroína que teve interferência em todas as políticas públicas de forte apelo social implementadas pelo governo, incluindo o Bolsa- Família ? programa que nunca foi subordinado diretamente aos ministérios geridos por ela: Minas e Energia e Casa Civil. “Eu digo sem medo de errar: grande parte do sucesso do governo está na capacidade de coordenação da companheira Dilma Rousseff”, afirma Lula.
O narrador, em seguida, diz que, além de coordenar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Luz para Todos e o Minha Casa, Minha Vida, “Dilma participou das grandes decisões do governo Lula envolvendo o pré-sal, o fortalecimento do Bolsa-Família, e a ampliação de recursos para saúde e educação”.
Se antes o partido já insistia na comparação entre o governo do presidente Lula com o do antecessor Fernando Henrique Cardoso, a partir de agora tenta fazer a associação direta do adversário, José Serra, à figura do ex-presidente tucano.
Serra evita o confronto direto com Lula.
Sempre quando questionado sobre o petista, o pré-candidato reconhece avanços sociais do atual governo.
Para driblar a popularidade de Lula, o PSDB insiste na tese de que a eleição será um contraponto das biografias de Serra e Dilma, e não um duelo entre Lula e FHC.
Sob os bordões “com Lula e Dilma” e “com FHC e Serra”, o programa exibiu indicadores de empregos com carteira assinada, ascensão social e até mesmo o racionamento de energia. “Com FHC e Serra”, disse o programa, houve racionamento por oito meses.
O apagão ocorrido em 2009, no governo Lula, em que 18 Estados ficaram sem energia, não foi mencionado.
Origens.
O PT dedicou boa parte do programa à biografia de Dilma Rousseff, tentando vincular suas origens a Minas Gerais, onde nasceu, e ao Rio Grande do Sul, onde iniciou sua atuação profissional e política como secretária municipal e estadual.
Diante das críticas da oposição de que a ex-ministra não tem experiência para ocupar a Presidência, o contra-ataque petista foi usar o presidente para enaltecer o desempenho da petista no governo. “Ela simplesmente foi exuberante na coordenação do meu governo”, disse Lula.
A pré-candidata foi apresentada como “economista e líder política respeitada”.
O presidente contou que decidiu que Dilma ocuparia o Ministério de Minas e Energia no dia em que a conheceu, quando ela participou de uma discussão sobre o plano nacional de energia quando ocupava o cargo de secretária no Rio Grande do Sul.
Na tentativa de torná-la mais conhecida e aproximá-la da população de baixa renda, o PT fez Dilma “entrevistar” dois beneficiários do programa Luz Para Todos.
Pesquisa Ibope feita em abril revelou que apenas 14% dos entrevistados disseram conhecer bem a petista.