Esta é a capa da Istoé desta semana.
Para os que gostam de criar confusão por tudo, o (II) no título deste post remete ao título de um outro que publicamos quando Serra foi capa da Veja também com o ar meigo que Dilma expressa na publicação de agora.
Leia o que foi publicado na revista: “Nós fizemos e sabemos como continuar a fazer” Com um calhamaço de fichas repletas de dados sobre realizações do governo Lula sempre ao alcance das mãos, a candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, falou por quase quatro horas sobre seus planos para o Brasil, numa entrevista exclusiva a editores e articulistas de ISTOÉ.
Em poucos momentos ela consultou a papelada.
Mas seguidamente procurou com os olhos um contato com sua equipe de assessores que lhe passava, sempre, sinais de aprovação.
Dilma não refugou assuntos.
Falou sobre questões pessoais e afetivas com a mesma naturalidade com que abordou temas da política e da economia.
Emocionou-se quando relembrou seus dias de luta contra o câncer.
Vestida com um terninho clássico, de tecido leve e claro, penteada e maquiada com discrição, Dilma Rousseff parece à vontade na condição de candidata.
Já suavizou a postura de gerente técnica que ostentava como ministra do governo Lula.
Mesmo que jamais tenha buscado votos em sua vida pública, faz promessas de candidata e demonstra apetite para contrapor-se ao candidato da oposição, José Serra.
Diz que a missão de seu governo é erradicar a pobreza, mas não estabelece prazos.
Anuncia ainda mudanças na condução do Banco Central e a intenção de criar um fundo federal para compensar perdas regionais na reforma tributária que se compromete a implementar.
A seguir, os principais trechos de sua entrevista: ISTOÉ – Por que a sra. acha que o presidente Lula a escolheu para sucedê-lo e quando exatamente se deu isso?
Dilma Rousseff – O presidente Lula me escolheu quatro vezes.
A primeira foi na transição do governo de Fernando Henrique para o governo Lula, em 2002.
O presidente me chamou para fazer a coordenação da área de infraestrutura porque me conhecia das reuniões do Instituto de Cidadania.
Depois ele me escolheu para ser ministra de Minas e Energia.
E, em 2005, para ser ministra da Casa Civil.
Por último, me escolheu para ser pré-candidata para levar à frente o projeto de governo.
Acho que me escolheu porque acompanhei com ele a construção de todos os grandes projetos.
O presidente sabe que nós conseguimos, juntos, fazer estes projetos.
ISTOÉ – Ser presidente era uma ambição pessoal da sra.?
Dilma – É um momento alto da minha vida, talvez o maior.
Tem gente que passou uma vida inteira querendo ser presidente da República.
Eu era mais modesta.
Fui para a atividade pública porque queria servir.
Pode parecer uma coisa falsa, mas acho que se pode servir à população brasileira no setor público.
Sempre acreditei que o Brasil podia mudar, mas isto era uma questão longínqua.
Quando o Lula me chamou para a chefia da Casa Civil, ele pretendia que o governo entrasse na trilha do crescimento e da distribuição de renda para que o Brasil desse um salto, e vi nisso uma grande oportunidade.
ISTOÉ – A sra. se considera preparada para o cargo?
Dilma – Tenho clareza, hoje, de que conheço bem o Brasil e os escaninhos do governo federal.
Então, sem falsa modéstia, me acho extremamente capacitada para o exercício desse cargo.
E acredito que o fato de não ser uma política tradicional pode incutir um pouco de novidade na gestão da coisa pública.
Uma novidade bem-vinda.
Na minha opinião, critérios técnicos se combinam com políticos.
Escolher onde aplicar é sempre um ato político.
Por exemplo, eu acho que a grande missão nossa é erradicar a pobreza e que é possível erradicá-la nos próximos anos.
Isto é um ato político.
Outra pessoa pode escolher outra coisa.
ISTOÉ – No horizonte de um governo, é possível erradicar a pobreza?
Dilma – Tem um estudo do Ipea mostrando que até 2016 é possível erradicar a pobreza extrema, a miséria.
Mas o empresário Jorge Gerdau costuma dizer que “meta que se cumpre é meta errada”.
Metas não são feitas para cumprir, mas para estabelecer um objetivo, criar uma força.
Assim, acredito que o prazo de 2016 é viável, mantido o padrão do governo Lula.
Nossa meta pode ser ainda mais ousada.
Só não vou dizer qual porque, se passar dois dias sem cumpri-la, vão dizer: “Não cumpriu a meta”, como fazem com o PAC.
Atrasar uma obra de engenharia em seis meses é a catástrofe no Brasil.
ISTOÉ – O presidente Lula também trabalhou com metas quando foi candidato.
Ele falava em dez milhões de empregos…
Dilma – Acho que a gente fecha em 14 milhões.
Falei com a área econômica de dois bancos e ambos consideram que o crescimento do PIB será de 6,4%, podendo chegar a 7%, o que dá condições para se chegar a estes 14 milhões de empregos.
Os dados da produção industrial que fechamos em março apontam um crescimento muito robusto e sustentável porque são os bens de capital que estão puxando esse desempenho.
ISTOÉ – O Banco Central está preocupado com este crescimento…
Dilma – Não, o Banco Central está preocupado com outra coisa.
Ele não pode estar preocupado com a expansão dos bens de capital porque isso é virtuoso.
ISTOÉ – Parece que há uma visão dissonante entre o Banco Central e a Fazenda sobre o desempenho da economia.
Como a sra. vê essa questão?
Dilma – Os dois trabalham em registros diferentes.
O BC faz uma análise necessariamente de curto prazo, porque ele trabalha com questões inflacionárias conjunturais, mais imediatas.
Ele olha a pressão na hora que ela acontece.
Já a Fazenda tem uma visão de mais médio e longo prazo. É outro registro.
A Fazenda tem consciência de que o Brasil está em uma trajetória de estabilidade e de sustentabilidade.
Agora, isso não é incompatível com o fato de você ter pressões inflacionárias imediatas.
Acho que foi importante o aumento dos juros na última reunião do Copom.
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