Do Blog de Josias de Souza Ao confiar à Telebras a gestão do seu programa de banda larga de internet, Lula gerou críticas dentro do próprio governo.

As principais ressalvas são feitas, sob reserva, no Ministério das Comunicações.

Ali, rumina-se o receio de que possam surgir contestações judiciais.

A Telebras, uma sobrevivente do ciclo de privatizações da era FHC, tornou-se um armário de esqueletos.

A estatal rumava para a desativação desde 1998.

Hoje, é precedida por um rastro pegajoso de ações judiciais.

Cerca de 1.200.

A maioria movida por ex-servidores.

As ações empurraram para dentro dos livros da Telebras um passivo que roça os R$ 300 milhões (em dezembro de 2009, o espeto era de R$ 284 milhões).

Convive com o risco diuturno da decretação judicial do sequestro de seus bens.

Até ontem, não tinha como honrar suas dívidas.

Opera no vermelho.

Carrega no balanço prejuízo acumulado de mais de R$ 430 milhões. É nesse balaio envenenado que o governo decidiu injetar, segundo foi anunciado nesta quarta (5), R$ 3,2 bilhões da Viúva.

Os críticos da conversão da Telebras em gestora do programa de internet rápida temem que a dívida velha mastigue um pedaço do dinheiro novo.

Em novembro de 2009, o pasta das Comunicações encaminhara a Lula um documento com sugestões para a disseminação da internet rápida.

Chama-se “Um plano nacional para banda larga – o Brasil em alta velocidade”.

Está disponível aqui, em versão integral.

Aqui, um “sumário executivo”.

O texto completo ocupa 196 páginas.

Em nenhuma delas a Telebras é mencionada.

Previram-se investimentos graúdos: R$ 75,5 bilhões até 2014.

O grosso, R$ 49,01 bilhões, viria das operadoras privadas de telefonia.

O resto, R$ 26,49 bilhões, seria provido pelo governo.

Trazido à luz depois de uma sucessão de adiamentos, o Plano Nacional de Banda Larga atribuiu papel de relevo à Telebras.

Vai cuidar da rede que proverá internet veloz às repartições públicas.

Na relação com a iniciativa privada, caberá à estatal fornecer a infraestrutura.

De resto, prevê-se que levará conexão às localidades que não forem adequadamente atendidas pelas empresas privadas.

Erenice Guerra, sucessora da candidata Dilma Rousseff na chefia da Casa Civil, diz que, ressuscitada, a Telebras será uma empresa enxuta.

Os críticos que se pronunciam nos subterrâneos do governo duvidam.

Afirmam que, para cumprir as novas tarefas que recebeu, a Telebras é candidata ao inchaço.

No curso dos debates que antecederam o anúncio do programa, uma das operadoras de telefonia, a Oi, levantou uma dúvida.

Servindo-se de canais informais, os gestores da Oi lembraram que o governo é sócio da empresa.

Há na Oi dinheiro do BNDES e de fundos de pensão de estatais.

Ao atribuir à Telebras o papel de gestora da banda larga, o Estado passaria a atuar dos dois lados do balcão.

Algo que seria vedado pela legislação.

Chamada a opinar, a Advocacia Geral da União não enxergou problemas legais capazes de inviabilizar a participação da Telebras no negócio.

Estima-se na pasta das Comunicações que, do lado privado, a Oi será a grande operadora de banda larga.

Ao adquirir a Brasil Telecom, há dois anos, a Oi converteu-se numa supertele.

Hoje, cobre dois terços do território nacional.

Para pôr a Oi de pé, o governo foi à sociedade com verbas da BNDESpar, subsidiária do bancão oficial de fomento.

Tonificou também a participação de dois fundos de pensão no capital da empresa: Petros, da Petrobras; e Funcef, da Caixa Econômica.

No pedaço privado da composição societária da Oi estão duas logomarcas conhecidas: Andrade Gutierrez e La Fonte, do grupo Jereissati.

A gestão da companhia é privada.

Mas, pelas contas do Ministério das Comunicações, o governo seria majoritário na composição societária da Oi.

De resto, foi à mesa na fase de debates do programa de banda larga uma preocupação política.

Discutiu-se a hipótese de transferir para o próximo governo, a ser instalado em 2011, a tarefa de implementar o plano.

A oito meses do fim, a gestão Lula apenas levaria o programa à prateleira.

Um pedaço do governo, Casa Civil à frente, bateu o pé.

Optou-se, então, por levar a banda larga a pelo menos 100 municípios ainda sob Lula.

A idéia é tornar o programa um fato consumado.

Há um quê de 2010 na decisão.

A internet rápida vai ao palanque como uma das peças de campanha da candidata oficial, Dilma Rousseff.