Prezado Jamildo, Sou leitora assídua do seu blog e tenho acompanhado o debate sobre João Paulo e João da Costa.
Abaixo tem um pequeno texto que escrevi sobre tal debate e gostaria de solicitar gentilmente que você o publique em seu blog.
Acredito que é um ponto de vista importante e que está fazendo falta em toda essa discussão.
Desde já agradeço, esperando ansiosa sua publicação, Respeitosamente, Kaliani Rocha O debate que interessa Sergio Buarque, no seu clássico ensaio, Raízes do Brasil, já dizia que, em nosso país, o conflito entre diferentes princípios não passava da luta de um personalismo contra o outro.
Se tivesse vivido até os nossos dias, Sergio Buarque talvez acrescentasse uma outra observação: A grande tragédia da política brasileira é que, mesmo quando há conflitos políticos e ideológicos, a percepção gerada pela mídia é de que tais embates não passam de rusgas pessoais, alimentadas por vaidades e mesquinharias.
Esse é o caso da disputa entre o ex-prefeito João Paulo e o atual prefeito João da Costa.
Dei-me conta mais uma vez dessa percepção equivocada ao ler um texto de autoria deste blogueiro sobre uma hipotética humilhação sofrida pelo prefeito João da Costa.
Segundo o texto, Costa foi tratado como um “subordinado” do ex-prefeito por ter sido instado a comparecer a uma reunião política.
João da Costa fazia parte de um projeto coletivo, que venceu as eleições para a Prefeitura do Recife em 2000.
Participou ativamente desse projeto, ocupando posições estratégicas na prefeitura.
Eleito prefeito em 2008, continuou, em tese, como parte desse projeto.
Participar de reuniões do coletivo que sempre apoiou as ideias-mestras desse projeto popular não pode ser considerado “ato de subordinação”, nem muito menos gesto que humilhe alguém.
Faz simplesmente parte da política.
O próprio João Paulo também é soldado do Partido dos Trabalhadores e participa, a seu modo e com suas potencialidades, no projeto do partido.
Não há, portanto, nada desabonador nem humilhante em fazer parte de uma reunião política.
A não ser, claro, que você não abrace uma visão política que enfatize a necessidade de um projeto coletivo como sustentáculo da administração municipal.
Por trás daquilo que a mídia tenta transmitir como se fosse uma rixa entre dois políticos, talvez haja mais do que uma querela de egos.
Talvez haja visões bem diferentes sobre práticas políticas.
Creio que é esse o debate que interessa.
Para qualquer observador informado, é notória a inflexão política e administrativa do prefeito João da Costa.
Se na época de João Paulo a ênfase era cuidar das pessoas, destacando o papel essencial que a prefeitura desempenhava no combate às desigualdades sociais e na promoção do bem-estar de classes mais pobres, a prioridade de João da Costa parece ser retomar um arremedo desenvolvimentista, de obras vistosas para a classe média.
Infelizmente, não vejo a imprensa fazendo esse debate político – tão mais interessante e rico do que o noticiário centrado nas desavenças pessoais.
Se houve alguma traição por parte de João da Costa – algo que nunca foi afirmado publicamente por João Paulo -, foi uma traição a um projeto político voltado para melhorar a vida das populações mais vulneráveis e atenuar as terríveis desigualdades sociais do Recife.
Seria bom para o Partido dos Trabalhadores e a própria cidade do Recife fazer esse debate.
Não porque tal discussão seja importante para o grupo de João Paulo ou João da Costa, mas porque ela é fundamental para o povo do Recife.
Kaliani Rocha (Psicossocióloga)