O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, admitiu, sem citar nomes, que a mudança do presidente da República pode, a médio prazo, reduzir as taxas de juros e estancar a valorização cambial, fatores que, na sua opinião, estão fazendo a indústria perder mercados internacionais e participação no Produto Interno Bruto (PIB).

Para isso, é bastante, segundo ele, que o próximo presidente contenha vigorosamente os gastos públicos. “A mudança na Presidência da República pode, sim, provocar influências positivas nos juros e no câmbio, na medida em que a execução de uma política fiscal com maior contenção terá efeito nestes dois componentes, se não no curtíssimo prazo, a médio prazo”, afirmou Monteiro Neto, durante o seminário Juros e Câmbio, na Câmara dos Deputados, promovido pela Comissão de Finanças e Tributação.

De acordo com o presidente da CNI, o real é a moeda que mais se desvalorizou no final da última década, mais do que o euro e o iene, recuando de uma média de R$ 3,54/US$ para R$ 1,74 entre 2003 e 2009.

A taxa de juros real, por sua vez, conforme Monteiro Neto, é seis vezes mais elevada do que o juro médio de 40 países, com spreads (diferença entre o custo de captação e a taxa final cobrada ao tomador) que chegam a quase 30%, os mais altos do mundo. “O binômio câmbio valorizado e juro alto concorre para a perda de competitividade do produto brasileiro num cenário de pós-crise econômica internacional em que a concorrência se acirra cada vez mais”, enfatizou Monteiro Neto.

Disse ser inaceitável que uma política fiscal expansionista deixe como única alternativa de combate à inflação a alta dos juros da política monetária.

O presidente da CNI alertou que a indústria de transformação vem perdendo posição na participação do PIB, constatação “extremamente preocupante”, na sua avaliação.

A queda do setor industrial na composição do PIB só não é maior, destacou ele, porque o país possui uma forte indústria extrativa mineral, especialmente na exploração do petróleo. “Não podemos aceitar o desmonte de uma plataforma manufatureira construída anos a fio, a maior e mais diversificada da América Latina”, sublinhou. “A indústria tem de obter políticas amigáveis para crescer”, completou.