Por Josias de Souza da Folha de São Paulo O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avocou para si uma “tarefa” que os operadores da campanha presidencial da petista Dilma Rousseff consideram “estratégica”.

Caberá ao presidente, por decisão dele próprio, a missão de “desconstruir” o discurso “continuísta” do oponente tucano, o ex-governador José Serra.

Em privado, Lula recomendou “calma” aos coordenadores do comitê oficial.

Acha que devem se preocupar mais com Dilma e menos com o rival.

Ele disse que cuidará do tucano “no momento certo”.

O presidente avalia que hoje só duas tribos seguem os desdobramentos da campanha: políticos e jornalistas.

Na opinião de Lula, o eleitor só vai se ligar no processo sucessório em agosto, quando a propaganda eleitoral chegar ao horário nobre da televisão. É quando pretende, segundo a expressão que usou, “entrar em campo”.

Até lá, disse o presidente, a prioridade deve ser a preparação da pré-candidata petista.

Há um grande incômodo no quartel-general do petismo com os rumos que Serra tenta imprimir à pré-campanha.

Avalia-se ali que o presidenciável tucano tenta anular o principal trunfo da candidatura de Dilma: a continuidade da gestão Lula.

O exemplo clássico é o Bolsa Família.

Em sucessivas entrevistas, Serra disse que, além de “manter”, vai “aperfeiçoar” o principal programa social do governo de Lula.

Expressões Em reação ao adversário, Dilma cunhou um par de expressões.

Primeiro, disse que a oposição comporta-se como “lobo em pele de cordeiro”.

Depois, pespegou em Serra uma metáfora aeroportuária.

Chamou-o de “biruta de aeroporto”.

Um modo de enfatizar que a opinião do rival muda conforme o vento.

O receio de Lula é o de que, ao responder ao ex-governador, Dilma acabe por reforçar a estratégia do inimigo, baseada no confronto de biografias.

Daí a decisão do presidente de cuidar, ele próprio, da descaracterização de Serra como um continuador do seu legado.

Lula deseja grudar no tucano outra herança: o espólio da gestão do antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

Quer repor nos trilhos a tática plebiscitária que idealizou.

Como não será candidato a nada, o presidente Lula não enfrentará nenhum óbice legal para levar o rosto à propaganda eleitoral televisiva de sua candidata.

Ele participará também de comícios, mas imagina que é na TV que a batalha eleitoral vai ser decidida.