Por Manoel Medeiros Neto, no Jornal do Commercio desta sexta-feira Além do rompimento de uma amizade, o distanciamento do ex-prefeito do Recife João Paulo (PT) e do atual gestor da capital, João da Costa (PT), está se refletindo em impasses políticos indesejáveis para o ocupante do Executivo.
Na Câmara do Recife, apesar da ampla vantagem da bancada governista em relação ao grupo da oposição (29 contra oito), administrar a governabilidade não tem sido um jogo tão fácil quanto o placar sugere.
Isso porque, na Casa, os dois cargos mais valiosos para a tranquilidade do governo – a presidência (Múcio Magalhães) e a liderança do governo (Josenildo Sinésio) – são ocupados por petistas do grupo de João Paulo, escolhidos na época que “João ainda era João”.
Sem oficializar nada para evitar mais mágoas, está em andamento na base aliada um processo que modificará o cenário pró-João Paulo na Casa de José Mariano, como é conhecido o Parlamento recifense.
As definições serão acordadas oficialmente em meados de maio, quando Costa conversará com as bancadas do PT e do governo separadamente.
As reuniões serão mediadas pelo secretário de Coordenação Política da PCR, Henrique Leite. “Não há nada oficial, o que existe é especulação.
Quando o prefeito voltar de Portugal, vamos conversar com as bancadas”, afirmou Henrique Leite.
João da Costa viajou para a Europa ontem à noite e retorna na próxima quarta (5).
A especulação admitida pelo secretário já ganhou corpo nos corredores da Câmara e, de acordo com fontes ligadas ao governo municipal, está próxima de se tornar fato.
No caso da liderança, Sinésio admite que sua ambição de disputar uma vaga na Câmara Federal pode afastá-lo do cargo. “A liderança é do prefeito e a decisão final é dele”, afirmou.
Nas últimas semanas, Josenildo manteve sua postura em defesa do governo, mas deixou para os vice-líderes o papel de assumir o embate com a oposição. “Nos últimos 30 dias existiram muitos embates.
Eu não faço doidices”, respondeu o líder, quando questionado sobre o silêncio na sessão da última quarta, quando a oposição criticou a primeira-dama, Marília Bezerra.
No caso da presidência da Casa, função que controla a tramitação dos projetos e centraliza decisões importantes, a afinidade de décadas entre Múcio Magalhães e o seu “comandante”, como costuma se referir a João Paulo, incomoda setores da administração de João da Costa.
O fato é que ele cumpre o seu papel de aliado, mas a disposição de defender João da Costa não é mais a mesma.
Diante dos ataques cada vez mais constantes da oposição – que se aproveita do desacerto político entre os Joões para faturar –, o presidente deve ser, nos planos da cúpula do governo, um alinhado ferrenho. “Nós defendemos um projeto que elegemos e continuo com essa missão”, argumentou Múcio.
ELEIÇÕES Para as modificações pretendidas por ambos os grupos, a disputa nas eleições de outubro é a justificativa oficial. “Os dois serão candidatos e eles podem realmente ter dificuldades para a atividade da presidência e de líder.
Por enquanto, não existe essa definição”, afirmou Henrique Leite.
Com a pré-candidatura de Múcio à Assembleia Legislativa cada dia mais consistente, há quem cogite até a antecipação da eleição da mesa diretora.
De acordo com o regimento da Casa, a eleição deve acontecer na primeira quinzena de dezembro.
Para aliados de João da Costa, a antecipação seria a opção ideal: Múcio ficaria mais livre para buscar os votos e o governo contaria com um presidente mais afinado com o prefeito.
Mas falta acertar com o próprio Múcio: “Vou me manter na presidência.
Para ocorrer essa mudança eu precisaria estar de acordo”.